Emerson Sheik chama a diretoria de incompetente, pede a verdade no Botafogo e critica o presidente: ‘Ninguém é idiota’
No
futebol, Sheik tem história: era Márcio, nascido em Nova Iguaçu, pobre.
Adulterou a identidade, virou Emerson, fez sucesso e fortuna. É o
Sheik. Agora, aos 35 anos, vive o outro lado da moeda: o desafio de
estar num Botafogo que agoniza financeiramente. Sem papas na língua, ele
faz críticas ao presidente.
Como vê a atual situação do Botafogo?
Vivo uma situação particular. Quando saí do Brasil,tive passagens pelo Japão... Minha história é bacana. Com conquistas. Por Flamengo, Fluminense, Corinthians. O Botafogo seria o clube que me daria momento de tristeza. Mas não. Tenho aprendido muito. Só havia vivido a felicidade do futebol. E o Botafogo me levou para uma realidade diferente. Estou amadurecendo aos 35 anos. É lógico que eu não desejo isso para a vida de ninguém. Mas o ambiente de trabalho, mesmo sem a diretoria conseguir pagar, sem honrar os acordos, é bom. Mas ninguém quer passar por isso.
O ambiente está bom?
Com toda a incompetência da diretoria, ainda temos um grupo de homens, atletas, jogadores. Diante de toda essa confusão, conseguimos nos respeitar. A comissão tem mérito.
Você está emprestando dinheiro?
É chato falar disso, não quero. O futebol é a oportunidade de o moleque sair da favela, do meio do tráfico e sonhar. Você vai do lixo ao luxo. E nem todos são extremamente ricos, como pensam. Nos clubes em que joguei no Brasil, os jogadores, na maioria, tinham conforto. Aqui, estou vendo atletas com dificuldades de botar gasolina. Nunca vivi isso. Mas não esqueço de onde eu saí. A molecada está sem receber. E não recebe salários astronômicos. São três, cinco meses. E tão importante quanto o dinheiro é o carinho. O ser humano espera uma palavra de apoio, conforto, carinho, uma esperança. Óbvio que precisa de grana para pagar contas. Supermercado não aceita carinho.
O que mais o impressiona negativamente?
Quando cheguei aqui, fui muito bem recebido. Não tenho nada a dizer. Mas com o passar do tempo, vi situações que não alegram, não trazem benefício, não agregam. Vi promessas não cumpridas. Datas, prazos e nada por salários. No dia acertado, todos ficam esperançosos. Depois, no dia, vem a desilusão. Isso cansa. Ninguém é babaca. Ninguém é idiota. Sou a favor da verdade. Quem vende sonho é padaria. O atleta quer verdade.
O que é incompetência no futebol?
O planejamento do Botafogo não pode ser o mesmo do São Paulo. São números diferentes. Há contratações extremamente duvidosas.
De que ponto de vista? Técnico ou financeiro?
Do caráter financeiro. Envolvimento de diretoria com empresários... Tem que dar um basta nisso. O exemplo maior é o Botafogo. Tem uma história linda, grandes ídolos. Em sua sala, tem o Carlos Alberto Torres com taça, o Jairzinho, o Mauro Galvão... Com risco de falência.
Fechar as portas?
Olha, mas uma pessoa só não é capaz de fechar as portas do Botafogo (o presidente Maurício Assumpção). Por gostar muito do futebol, e do Botafogo agora, uma única pessoa não conseguirá.
Existe risco de debandada?
Doa a quem doer, tem que ser sincero. Falar a verdade. Eu, muitas vezes, me prejudiquei na carreira por falar o que penso. Se a lei me dá o direito, não vou mentir. Eu, Emerson, com família, mulher, filhos, sairia. Tenho família, contas a pagar. Mas olha bem: não fico induzindo a ficar ou sair. Isso é muito pessoal. Não posso dar minha opinião. Cada um tem sua própria vida.
Mas e você?
Minha situação é um pouco diferente. Eu recebo do Corinthians. O Corinthians me paga. E, assim, o dia que era para ser de alegria é o de maior tristeza. Eu sei que todo dia cinco o meu salário cai na conta. E aqui? Sei que a maioria aqui não. O Julio Cesar é meu amigo, um irmão. Fico pensando nos filhos dele, na mulher dele, na roupa, como estão se vestindo. E a dos outros? É f...
E o fardo? Está pesado internamente?
Hoje é sexta-feira. Mas cheguei ao clube na terça e estava um silêncio no vestiário. Pensei que fazia parte por causa da derrota para o Flamengo. Aí, cheguei na quarta e a mesma coisa. Comecei a não entender. Futebol não te dá muito tempo para chorar. Aí, eu liguei a minha caixa de som pensando que ia dar uma animada. Um jogador chegou perto, no meu ouvido... E, baixinho, disse: “Emerson, que bom que você chegou com essa energia toda. Eu não estou triste com a derrota para o Flamengo, mas porque a diretora do colégio me ligou para dizer que mais um mês da mensalidade venceu. E eu não sei mais o que falar.” Na boa, como faz para motivar? E quem entende de futebol sabe o quanto o vestiário é importante. Às vezes, ou muitas vezes, o atleta precisa que um dirigente venha e não minta. Só não pode se sentir abandonado. O Gottardo trouxe um pouco de esperança. Não que ele venha a ser o salvador, longe disso. Não tem a força de um presidente. Mas já é uma pessoa que está passando o que acontece aqui dentro para o presidente.
Vai ter faixa de protesto contra o Cruzeiro?
As faixas, por conta do nosso grupo, não vão aparecer mais. Pelo menos, nos próximos jogos, não. A derrota para o Flamengo acendeu o sinal vermelho. Estamos próximos da zona de rebaixamento. Só estamos pensando no jogo. E demos voto de confiança para o Gottardo.
Enfrentar o Cruzeiro justamente agora é pior?
Em 2011, quando estava no Corinthians e íamos enfrentar o Palmeiras, um jogador de lá disse: “São 11 contra 11.” Vamos jogar no Maracanã, com toda a magia, e temos que nos motivar mesmo com toda a dificuldade financeira. Se o jogador não se motivar nessa hora, tem que rever muita coisa.
O rebaixamento dá medo?
Todo mundo que está ali atrás precisa ter esse medo. Todos que não encaixaram duas vitórias. Estamos distantes do G-8. Eu não acredito que o Botafogo vá cair.
Decepcionou-se com o Maurício Assumpção?
Bem... (pensa). Eu não sei. Ele foi um lorde comigo, um gentleman na chegada. E não o conheço pessoalmente. Mas algumas coisas me deixaram triste. Falta de atitude. Em certos momentos, você não pode estender um problema. A minha postura é clara: tem um mês de trabalho, paga. E não se deixa atrasar três meses para pagar um. Mais vale a verdade que doa do que a mentira que iluda.
E você vai sair do Botafogo?
(respira fundo). Olha só... Eu tenho propostas, sim. Mas sou homem. Não vou sair agora. Até dezembro eu fico.
No início do ano, acertaram premiação ou bicho?
(risos). Se não tem salário vai ter bicho? É legal que motiva, e tudo mais. E no início do ano, o Sidney Loureiro (então gerente de futebol do clube) disse que tinha uma planilha com isso. Ninguém nunca viu essa planilha.
E sobre o futebol brasileiro? Como você vê a goleada de 7 a 1 para a Alemanha?
O resultado não é comum. Se por ventura, jogassem de novo, o Brasil não levaria de sete. Todo mundo sabe disso. Teve, de fato, um apagão. Isso é uma coisa. Agora temos de refletir. Os sete gols vieram num momento importante, diante do povo. E só o povo muda. É bom para que os nossos dirigentes possam rever. Se eu for falar de tudo errado, ferrou. A começar pela CBF, que é uma bagunça, e vou até a Série C. Individualmente, a nossa seleção não pode ser questionada. Mas a parte coletiva e tática, o planejamento. A Alemanha
Pretende encerrar a carreira com quantos anos?
Vou jogar enquanto estiver me sentindo bem. Não vou roubar, como se diz na gíria do futebol. Não quero jogar com o nome. Mas olha: pelo visto, ainda vou jogar por um bom tempo.
E já sabe o que fará depois da aposentadoria?
Vou morar seis meses nos Estados Unidos para melhorar o inglês. E ficar de olho nas oportunidades do futebol. Até TV (comentário).. Gosto muito de falar, né. (risos).
Como vê a atual situação do Botafogo?
Vivo uma situação particular. Quando saí do Brasil,tive passagens pelo Japão... Minha história é bacana. Com conquistas. Por Flamengo, Fluminense, Corinthians. O Botafogo seria o clube que me daria momento de tristeza. Mas não. Tenho aprendido muito. Só havia vivido a felicidade do futebol. E o Botafogo me levou para uma realidade diferente. Estou amadurecendo aos 35 anos. É lógico que eu não desejo isso para a vida de ninguém. Mas o ambiente de trabalho, mesmo sem a diretoria conseguir pagar, sem honrar os acordos, é bom. Mas ninguém quer passar por isso.
O ambiente está bom?
Com toda a incompetência da diretoria, ainda temos um grupo de homens, atletas, jogadores. Diante de toda essa confusão, conseguimos nos respeitar. A comissão tem mérito.
Você está emprestando dinheiro?
É chato falar disso, não quero. O futebol é a oportunidade de o moleque sair da favela, do meio do tráfico e sonhar. Você vai do lixo ao luxo. E nem todos são extremamente ricos, como pensam. Nos clubes em que joguei no Brasil, os jogadores, na maioria, tinham conforto. Aqui, estou vendo atletas com dificuldades de botar gasolina. Nunca vivi isso. Mas não esqueço de onde eu saí. A molecada está sem receber. E não recebe salários astronômicos. São três, cinco meses. E tão importante quanto o dinheiro é o carinho. O ser humano espera uma palavra de apoio, conforto, carinho, uma esperança. Óbvio que precisa de grana para pagar contas. Supermercado não aceita carinho.
O que mais o impressiona negativamente?
Quando cheguei aqui, fui muito bem recebido. Não tenho nada a dizer. Mas com o passar do tempo, vi situações que não alegram, não trazem benefício, não agregam. Vi promessas não cumpridas. Datas, prazos e nada por salários. No dia acertado, todos ficam esperançosos. Depois, no dia, vem a desilusão. Isso cansa. Ninguém é babaca. Ninguém é idiota. Sou a favor da verdade. Quem vende sonho é padaria. O atleta quer verdade.
O que é incompetência no futebol?
O planejamento do Botafogo não pode ser o mesmo do São Paulo. São números diferentes. Há contratações extremamente duvidosas.
De que ponto de vista? Técnico ou financeiro?
Do caráter financeiro. Envolvimento de diretoria com empresários... Tem que dar um basta nisso. O exemplo maior é o Botafogo. Tem uma história linda, grandes ídolos. Em sua sala, tem o Carlos Alberto Torres com taça, o Jairzinho, o Mauro Galvão... Com risco de falência.
Fechar as portas?
Olha, mas uma pessoa só não é capaz de fechar as portas do Botafogo (o presidente Maurício Assumpção). Por gostar muito do futebol, e do Botafogo agora, uma única pessoa não conseguirá.
Existe risco de debandada?
Doa a quem doer, tem que ser sincero. Falar a verdade. Eu, muitas vezes, me prejudiquei na carreira por falar o que penso. Se a lei me dá o direito, não vou mentir. Eu, Emerson, com família, mulher, filhos, sairia. Tenho família, contas a pagar. Mas olha bem: não fico induzindo a ficar ou sair. Isso é muito pessoal. Não posso dar minha opinião. Cada um tem sua própria vida.
Mas e você?
Minha situação é um pouco diferente. Eu recebo do Corinthians. O Corinthians me paga. E, assim, o dia que era para ser de alegria é o de maior tristeza. Eu sei que todo dia cinco o meu salário cai na conta. E aqui? Sei que a maioria aqui não. O Julio Cesar é meu amigo, um irmão. Fico pensando nos filhos dele, na mulher dele, na roupa, como estão se vestindo. E a dos outros? É f...
E o fardo? Está pesado internamente?
Hoje é sexta-feira. Mas cheguei ao clube na terça e estava um silêncio no vestiário. Pensei que fazia parte por causa da derrota para o Flamengo. Aí, cheguei na quarta e a mesma coisa. Comecei a não entender. Futebol não te dá muito tempo para chorar. Aí, eu liguei a minha caixa de som pensando que ia dar uma animada. Um jogador chegou perto, no meu ouvido... E, baixinho, disse: “Emerson, que bom que você chegou com essa energia toda. Eu não estou triste com a derrota para o Flamengo, mas porque a diretora do colégio me ligou para dizer que mais um mês da mensalidade venceu. E eu não sei mais o que falar.” Na boa, como faz para motivar? E quem entende de futebol sabe o quanto o vestiário é importante. Às vezes, ou muitas vezes, o atleta precisa que um dirigente venha e não minta. Só não pode se sentir abandonado. O Gottardo trouxe um pouco de esperança. Não que ele venha a ser o salvador, longe disso. Não tem a força de um presidente. Mas já é uma pessoa que está passando o que acontece aqui dentro para o presidente.
Vai ter faixa de protesto contra o Cruzeiro?
As faixas, por conta do nosso grupo, não vão aparecer mais. Pelo menos, nos próximos jogos, não. A derrota para o Flamengo acendeu o sinal vermelho. Estamos próximos da zona de rebaixamento. Só estamos pensando no jogo. E demos voto de confiança para o Gottardo.
Enfrentar o Cruzeiro justamente agora é pior?
Em 2011, quando estava no Corinthians e íamos enfrentar o Palmeiras, um jogador de lá disse: “São 11 contra 11.” Vamos jogar no Maracanã, com toda a magia, e temos que nos motivar mesmo com toda a dificuldade financeira. Se o jogador não se motivar nessa hora, tem que rever muita coisa.
O rebaixamento dá medo?
Todo mundo que está ali atrás precisa ter esse medo. Todos que não encaixaram duas vitórias. Estamos distantes do G-8. Eu não acredito que o Botafogo vá cair.
Decepcionou-se com o Maurício Assumpção?
Bem... (pensa). Eu não sei. Ele foi um lorde comigo, um gentleman na chegada. E não o conheço pessoalmente. Mas algumas coisas me deixaram triste. Falta de atitude. Em certos momentos, você não pode estender um problema. A minha postura é clara: tem um mês de trabalho, paga. E não se deixa atrasar três meses para pagar um. Mais vale a verdade que doa do que a mentira que iluda.
E você vai sair do Botafogo?
(respira fundo). Olha só... Eu tenho propostas, sim. Mas sou homem. Não vou sair agora. Até dezembro eu fico.
No início do ano, acertaram premiação ou bicho?
(risos). Se não tem salário vai ter bicho? É legal que motiva, e tudo mais. E no início do ano, o Sidney Loureiro (então gerente de futebol do clube) disse que tinha uma planilha com isso. Ninguém nunca viu essa planilha.
E sobre o futebol brasileiro? Como você vê a goleada de 7 a 1 para a Alemanha?
O resultado não é comum. Se por ventura, jogassem de novo, o Brasil não levaria de sete. Todo mundo sabe disso. Teve, de fato, um apagão. Isso é uma coisa. Agora temos de refletir. Os sete gols vieram num momento importante, diante do povo. E só o povo muda. É bom para que os nossos dirigentes possam rever. Se eu for falar de tudo errado, ferrou. A começar pela CBF, que é uma bagunça, e vou até a Série C. Individualmente, a nossa seleção não pode ser questionada. Mas a parte coletiva e tática, o planejamento. A Alemanha
Pretende encerrar a carreira com quantos anos?
Vou jogar enquanto estiver me sentindo bem. Não vou roubar, como se diz na gíria do futebol. Não quero jogar com o nome. Mas olha: pelo visto, ainda vou jogar por um bom tempo.
E já sabe o que fará depois da aposentadoria?
Vou morar seis meses nos Estados Unidos para melhorar o inglês. E ficar de olho nas oportunidades do futebol. Até TV (comentário).. Gosto muito de falar, né. (risos).