Com R$ 20 milhões para CT da base, Assumpção revela penúria até 2009
Presidente
do Botafogo rebate críticas e afirma que jogadores se queimavam ao
cozinhar para atletas mais velhos em alojamento alugado com verba de
empresários
Um dos seis certificados do projeto incentivado para o CT de Marechal Hermes, no total de R$ 20 milhões (Foto: Reprodução)
O
Botafogo conseguiu dar mais um importante passo no
objetivo de reconstruir o seu centro de treinamento das categorias de
base. No
dia 5 de maio foi publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de
Janeiro a
autorização para que o clube possa captar cerca de R$ 20 milhões
incentivados
para as obras em Marechal Hermes, por meio da Lei de Incentivo ao
Esporte. A
expectativa da diretoria é começar até o fim deste ano, mas desde já o
clube
considera que este é mais um importante capítulo na sua reconstrução das
categorias de base. E no início do período eleitoral, o presidente
Maurício
Assumpção, que deixa o cargo em 25 de novembro, usou as conquistas das
jovens promessas - tarimbadas com a revelação de atletas - para rebater
críticas e comparar as gestões anteriores.
Com o carimbo da Secretaria de Esporte e Lazer do Estado do Rio de Janeiro, o documento
foi entregue ao Botafogo em 25 de abril dividido em seis módulos, todo com o
Certificado de Mérito Esportivo, que somados chegam a exatos R$ 20.365.093,90. Este
valor tem como destino exclusivo a reconstrução do centro de treinamento de
Marechal Hermes, que servirá para as categorias de base do clube.
Em entrevista ao GloboEsporte.com, Maurício Assumpção
mostrou firmeza nas críticas a alguns integrantes da política do clube. Mesmo sem
citar nomes, teve como principal alvo o ex-vice de futebol Manoel Renha, que em
recente entrevista ao blog “Um facho de luz”, criticou muitos pontos de sua
gestão.
Assumpção denunciou as condições precárias que marcaram Marechal Hermes até assumir a presidência do Botafogo, quando, segundo ele, os jovens das categorias inferiores viviam em condições de penúria, como resultado de uma administração que fez a base do Alvinegro se enfraquecer em resultados e pouco fornecer reforços ao grupo profissional. Atualmente os atletas têm instalações provisórias no Caio Martins e no Cefat, mas a perspectiva é de que finalmente o clube consiga iniciar a construção de sua própria estrutura na gestão do próximo presidente.
Assumpção denunciou as condições precárias que marcaram Marechal Hermes até assumir a presidência do Botafogo, quando, segundo ele, os jovens das categorias inferiores viviam em condições de penúria, como resultado de uma administração que fez a base do Alvinegro se enfraquecer em resultados e pouco fornecer reforços ao grupo profissional. Atualmente os atletas têm instalações provisórias no Caio Martins e no Cefat, mas a perspectiva é de que finalmente o clube consiga iniciar a construção de sua própria estrutura na gestão do próximo presidente.
GloboEsporte.com: O Diário Oficial do Estado confirmou a
permissão dada ao Botafogo para captar recursos para a reconstrução do CT de Marechal Hermes. Como
enxerga essa notícia, no momento em que há muitas críticas sobre o fato de as obras ainda não terem começado?
Maurício Assumpção: Sei que sou criticado pelo fato de
Marechal estar destruído, mas não é fácil conseguir a aprovação desse projeto
incentivado. Conseguimos, e o próximo presidente vai encontrar esse certificado
com o projeto aprovado. O CT é um passo importante para as categorias de base,
mas não é o único. Vejo muitos dando a receita para gerir o Botafogo. Um deles,
aliás, foi vice de futebol no período em que a base ficou quatro anos sem
ganhar um clássico do Rio de Janeiro. Naquela época, os jogadores da base
vinham de outros clubes sem um contrato de parceria, porque o Botafogo
esquentava jogador. Ele vai dizer que desconhecia isso? Não era vice de
futebol? A base tinha preparador de goleiro do mirim que ganhava mais do que
preparador físico dos juniores. Isso é modelo de gestão? Além disso, as
condições de Marechal eram precárias.
Qual cenário que a diretoria que assumiu em 2009 viu em relação às condições de Marechal Hermes na época?
Maurício Assumpção rebateu críticas à sua gestão (Foto: Satiro Sodré)
Para começar, não havia autorização do Ministério Público para Marechal Hermes servir de alojamento. Então, o coordenador da base pegava dinheiro com os empresários dos jogadores, alugava uma casa ali na frente e colocava os atletas de 13, 14 anos para morar com os de 18, 19. Então, os menores cozinhavam para os maiores e ficavam com os braços queimados. Isso acontecia na base do Botafogo. Mas a pessoa vai dizer que não sabia. Esse é o modelo de gestão? E na hora que tem a oportunidade de fazer alguma coisa, não faz?
Nos últimos anos o Botafogo conseguiu revelar jogadores que
acabaram tornando-se titulares, o que há muito tempo não acontecia. Mas a maioria desses
atletas, como Jadson e Vitinho, por exemplo, acabaram por não ficar muito tempo
no clube.
Está certo, os jogadores revelados vão embora cedo. Mas me
mostre no futebol brasileiro qual clube consegue segurar seus talentos por
muito tempo. Por isso eu não vou formar? Por que não fizeram isso no Botafogo
nos últimos 15 anos? Por que esqueceram da base? Mas agora existem os doutores
da base que foram vices de futebol na época e não fizeram nada.
Ter receita de bolo, todo mundo tem. Mas eu
gostaria de ver se, sentado na cadeira de presidente, é possível fazer a
receita funcionar
Maurício Assumpção
Em recente entrevista, o ex-vice de futebol Manoel Renha
sugeriu que uma das formas de diminuir custos do clube é cortando algumas
atividades e possivelmente focar no futebol e no remo, podendo manter as
escolinhas se forem autossustentáveis. Isso iria contra um princípio da sua
gestão, que foi exatamente expandir o número de esportes desenvolvidos pelo Botafogo.
Acredita que essa redução será necessária a partir do ano que vem?
Acho que seria um erro estratégico absurdo em se tratando
de clube que vive do esporte. Se não houvesse as penhoras, remo, vôlei,
basquete, natação e polo, além do futsal até o sub-13, seriam autossustentáveis.
Quando eu assumi a presidência, entendi que o Botafogo precisava desses esportes
para construir uma marca vencedora dentro de um projeto maior de crescimento e
rejuvenescimento da torcida. Vejo pessoas dizendo que poderiam deixar só as
escolinhas.
Mas qual criança quer fazer um esporte num clube se não tem a possibilidade de competir ou de se federar? Por exemplo, a reestruturação da base também incluía a contratação de ídolos para o time profissional, como Jefferson, Loco Abreu e Seedorf. Não à toa houve esse rejuvenescimento da torcida, já que o jovem passa a ter referências e assim se cria o estímulo para revelar atletas no clube. Ter receita de bolo, todo mundo tem. Mas eu gostaria de ver se, sentado na cadeira de presidente, é possível fazer a receita funcionar.
Mas qual criança quer fazer um esporte num clube se não tem a possibilidade de competir ou de se federar? Por exemplo, a reestruturação da base também incluía a contratação de ídolos para o time profissional, como Jefferson, Loco Abreu e Seedorf. Não à toa houve esse rejuvenescimento da torcida, já que o jovem passa a ter referências e assim se cria o estímulo para revelar atletas no clube. Ter receita de bolo, todo mundo tem. Mas eu gostaria de ver se, sentado na cadeira de presidente, é possível fazer a receita funcionar.