Ex-Bota e Flu, atacante completa 40 anos e esbanja vitalidade na Série C
Ídolo
no Tupi-MG, Ademilson lembra passagens por grandes do futebol carioca,
mas lamenta velho problema de atraso nos salários: "Fui para o clube
certo na hora errada"
Ademilson acumula sucessos no Tupi-MG (Foto: Nina Abreu / Federação Mineira de Futebol)
Completar
40 anos em boa forma física é um desafio para muita gente. Manter a
saúde em dia e ainda competir em alto nível é ainda mais difícil. Na
Série C do Campeonato Brasileiro, um atacante comemora o feito nesta
quinta-feira. Nas quartas de final com o Tupi-MG, o veterano Ademilson
completa quatro décadas de vida como ídolo em Juiz de Fora, numa
carreira longa e que inclui passagens por dois dos maiores clubes do
país.
Foi em 2002, aos 28 anos, que o centroavante desembarcou
no Rio de Janeiro para vestir pela primeira vez a camisa de um grande, o
Botafogo. Era a oportunidade de cumprir um dos principais objetivos da
carreira de jogador: garantir o futuro. Mas assim como agora, o
Alvinegro enfrentava problemas antigos do futebol brasileiro.
– Naquela época, se o Botafogo estivesse pagando os salários, certamente
eu teria feito o meu pé de meia. A época era ruim, e isso aconteceu
também no Fluminense. Cheguei ao clube certo na hora errada, mas me
sinto muito feliz por ter vestido a camisa destes gigantes do futebol
nacional – declarou.
VÍDEO
VÍDEO
Um ano depois, a vida na cidade maravilhosa teria mais um endereço, as Laranjeiras, onde Ademilson protagonizou dois lances curiosos na final do Campeonato Carioca de 2003, contra o Vasco. Ele marcou dois gols: o primeiro, legal, foi anulado pela arbitragem; o segundo, irregular, foi validado pelo trio comandado pelo árbitro Samir Yarak (assista aos lances no vídeo ao lado).
A
fase
ruim do Alvinegro, que foi rebaixado à Segunda Divisão no Brasileirão de
2002, e os poucos momentos de bom futebol do Tricolor em
2003 não proporcionaram grande visibilidade ao atacante.
o peixe frito na bélgica
Ademilson repete gesto de Tailson em restaurante belga (Foto: BrunoRibeiro)
Mesmo
sem tanto destaque, Ademilson foi negociado com o Deportivo Irapuato,
do México, e em seguida se transferiu para o Lokeren, da Bélgica. Foi no
futebol europeu que o jogador viveu as situações mais curiosas com a
língua. A maior delas foi na hora de comer em um restaurante.
– Eu
estava com o Tailson, que jogou comigo no Botafogo. Nós fomos até um
restaurante, e ele cismou que queria comer peixe frito. Mas como pedir
peixe frito sem saber falar a língua local? Aí ele começou a gesticular,
fazer uma espécie de peixe com as mãos e uns sons com a boca, indicando
a fritura. Foi hilário – lembrou dando risadas.
saúde de ferro
Depois de voltar da Bélgica, Ademilson rodou o Brasil. Com passagens por
Paysandu, Uberlândia e Ipatinga, ele se destacou pelo Tupi-MG, onde
permanece até hoje, com vitalidade e físico invejáveis. Segundo o ídolo
do time de Juiz de Fora, onde foi campeão brasileiro em 2011 e da Taça
Minas Gerais em 2008, a receita para chegar aos 40 voando em campo é simples: se
cuidar.
– Parece uma indicação, uma receita boba, mas é o que eu fiz. Sempre me
cuidei muito. A alimentação que tenho sempre foi muito tranquila. Além
disso, nunca bebi e nunca fumei. Tem hora para tudo, e sempre oriento
meus companheiros para evitarem este tipo de coisa e treinarem forte.
Levo a sério a minha profissão, acho que por isso estou tão bem –
destacou.
Preparador físico elogia forma física de Ademilson (Foto: Bruno Ribeiro)
O
bom condicionamento físico não impressiona somente quem o vê em campo
da arquibancada. O preparador físico do clube, Luis Augusto Alvim, rasga
elogios à saúde e ao profissionalismo do atleta.
– Ele é um fenômeno. É privilegiado geneticamente, tem um físico
muito bom, mas nada disso adiantaria se não tivesse o
comprometimento e a dedicação que mostra no dia a dia. Ademilson é um
exemplo para os outros e faz o nome do preparador físico. Tenho muito
orgulho de trabalhar com ele e acho que ainda vai longe.
persistência
Nas últimas partidas, Ademilson tem sido opção no banco de reservas, mas a reserva não tem a
ver com a idade. Em março deste ano, Adê, como é carinhosamente chamado pelo
torcedor, sofreu uma ruptura no tendão de Aquiles do pé esquerdo, lesão que o
deixou afastado dos gramados por cinco meses. Para os mais acomodados,
esta seria a oportunidade para encerrar a carreira. No entanto,
o artilheiro alvinegro escolheu prosseguir.
Dores não impedem jogador de seguir carreira (Foto: Diego Alves)
– Nunca desisti de jogar.
Mesmo quando me lesionei há dois anos, quando rompi o ligamento cruzado
anterior do joelho esquerdo, nem pensei em parar. Me tratei, sempre quis
voltar aos campos e, com muita disciplina e determinação, voltei.
Depois do retorno, Ademilson atuou
em seis partidas, apenas uma como titular. Mesmo com pouco tempo
em campo, ele foi às redes duas vezes e ajudou o time a garantir a
primeira colocação do Grupo B.
A superação das dificuldades esteve presente na trajetória profissional.
Diferentemente da maioria dos atletas, o atacante não
passou pelas categorias de base. Com 17 anos, jogava no
profissional do Comercial, da cidade de Alegre, no Espírito Santo. Mesmo
com o lado bom da ascensão rápida, o jogador lamenta não ter tido a
oportunidade de trabalhar corretamente os fundamentos.
Ademilson faz sucesso com a torcida do Tupi-MG (Foto: Diego Alves
–
Faltou
isso para mim. Passar pelos estágios dentro de um clube é
importante para que você aprenda a se posicionar e execute os
fundamentos com perfeição. Se eu tivesse tido uma base, seria um jogador
melhor. Tive que aprender tudo na marra – explicou o atleta, que depois
da equipe capixaba passou pelo Rio Branco e pelo Alegrense, ambos do
Espírito Santo, onde se destacou antes de rumar para o Rio.
Hoje
aniversariante, Adê quer como presente continuar trabalhando com os
colegas de Tupi-MG para buscar a vaga de titular. Ou para entrar no
decorrer
das partidas e fazer os gols que podem ajudar a garantir o acesso
inédito do
clube mineiro à Série B do Brasileiro. O que importa é ajudar.