Achei! Realizado no México, Juninho critica Assumpção: "Mágoa é grande"
Maior artilheiro entre zagueiros do Campeonato Mexicano, jogador lembra de período difícil em 2009 e revela promessas não cumpridas: "Ele não foi homem com a gente"
Juninho e a satisfação no futebol mexicano (Foto: Arquivo Pessoal)
Juninho
deixou o Brasil em 2010 rumo à Coreia do Sul. A aventura, fruto de um
empréstimo do Botafogo ao Samsung Bluewings, durou apenas seis meses.
Ainda no mesmo ano, o zagueiro encontrou-se no México, onde defende o
Tigres até hoje. Já são cinco temporadas vestindo a camisa dos
Auriazules, um título do Campeonato Mexicano – conquistado em dezembro
de 2011 e que findou um jejum de 39 anos – e uma Copa MX no currículo.
Além disso, manteve a rotina goleadora dos tempos do Glorioso. No ano
passado, tornou-se o defensor com mais gols na história da liga local.
Hoje, soma 25 e ainda anotou outros sete (quatro na Copa MX e três na
Concachampions). Feliz e estabilizado, ele elenca os fatores que o
encantaram em sua nova casa.
– Vou completar cinco anos aqui e tenho contrato até dezembro de 2016. Estou num dos maiores clubes do México, que me dá toda a condição de trabalhar tranquilo. Tem muita torcida, que me respeita. O que mais o impressiona por lá é a estrutura que o clube oferece: um centro de treinamento com cinco campos, com tudo de primeiro nível que um jogador necessita. Além disso, há o tratamento que a torcida dá não só a mim, mas a todo jogador que chega. São mais de 100 partidas com o estádio cheio, seja contra quem for. Antes de começar a temporada, eles colocam 38 mil carnês à venda, para todos os jogos do ano. Todos são vendidos num só dia, e cinco mil ainda são reservados para o pessoal que não pode comprar o pacote para o ano inteiro. Acho que nunca joguei aqui sem o estádio lotado.
– Vou completar cinco anos aqui e tenho contrato até dezembro de 2016. Estou num dos maiores clubes do México, que me dá toda a condição de trabalhar tranquilo. Tem muita torcida, que me respeita. O que mais o impressiona por lá é a estrutura que o clube oferece: um centro de treinamento com cinco campos, com tudo de primeiro nível que um jogador necessita. Além disso, há o tratamento que a torcida dá não só a mim, mas a todo jogador que chega. São mais de 100 partidas com o estádio cheio, seja contra quem for. Antes de começar a temporada, eles colocam 38 mil carnês à venda, para todos os jogos do ano. Todos são vendidos num só dia, e cinco mil ainda são reservados para o pessoal que não pode comprar o pacote para o ano inteiro. Acho que nunca joguei aqui sem o estádio lotado.
O
cumprimento do que é acordado em contrato e um calendário menos inchado
também agradam a Juninho. Mas o atleta de 32 anos frisa: tais condições
não são mordomias, mas sim obrigações comuns a qualquer clube.
– Outra coisa que tem de ser ressaltada, e que deveria ser normal no Brasil: eles pagam rigorosamente em dia. O calendário não tem tantos jogos, aqui jogamos praticamente só em todos os sábados. No Brasil, são 70, 80 jogos por ano. É uma coisa desumana, e tenho acompanhado a luta do Bom Senso. Tem que ver o lado do ser humano. Hoje em dia, infelizmente o futebol virou 70% parte física, e a parte técnica está cada vez ficando mais para trás. O calendário deveria ser revisto para que o nível do futebol melhore (no Brasil).
– Outra coisa que tem de ser ressaltada, e que deveria ser normal no Brasil: eles pagam rigorosamente em dia. O calendário não tem tantos jogos, aqui jogamos praticamente só em todos os sábados. No Brasil, são 70, 80 jogos por ano. É uma coisa desumana, e tenho acompanhado a luta do Bom Senso. Tem que ver o lado do ser humano. Hoje em dia, infelizmente o futebol virou 70% parte física, e a parte técnica está cada vez ficando mais para trás. O calendário deveria ser revisto para que o nível do futebol melhore (no Brasil).
Autor de um dos gols na vitória por 3 a 0 sobre o Alebrijes de Oaxaca, no último dia 10 de abril, Juninho ergue o troféu da Copa MX pelo Tigres
(Foto: Arquivo Pessoal)
(Foto: Arquivo Pessoal)
Humilde,
Juninho não prefere não se rotular como ídolo no México, porém listou
algumas conquistas pessoais que provam seu valor no futebol local.
– Acho que nunca tive essa questão de ser ídolo no futebol. O importante é que me tratem bem, e a torcida gosta muito de mim. Sou capitão do time, coisa que consegui nesses cinco anos de clube, nada foi dado de graça, ninguém me deu nada. Consegui o respeito de todo mundo, e o pessoal aqui é louco por futebol. A galera cumprimenta, vem te abraçar e, sobretudo me respeita. Ganhe ou perca, a gente tem tranquilidade - prosseguiu Juninho, cobrador oficial de pênaltis do Tigres (também segue batendo faltas).
– Acho que nunca tive essa questão de ser ídolo no futebol. O importante é que me tratem bem, e a torcida gosta muito de mim. Sou capitão do time, coisa que consegui nesses cinco anos de clube, nada foi dado de graça, ninguém me deu nada. Consegui o respeito de todo mundo, e o pessoal aqui é louco por futebol. A galera cumprimenta, vem te abraçar e, sobretudo me respeita. Ganhe ou perca, a gente tem tranquilidade - prosseguiu Juninho, cobrador oficial de pênaltis do Tigres (também segue batendo faltas).
Futebol mexicano e Ronaldinho Gaúcho passaram a se
confundir desde a ida de R10 para o Querétaro. Juninho reconhece que os
holofotes se voltaram para o país, aposta em mais estrelas
internacionais no país e imagina o ex-Barcelona, Flamengo e Atlético-MG
brilhando por lá. Eles, aliás, quase se enfrentaram na Copa MX, mas no
jogo de ida Juninho, poupado juntamente com o time titular do Tigres,
não entrou em campo. Na volta, Ronaldinho, lesionado, foi a ausência.
–
A visibilidade do Campeonato Mexicano cresceu. Agora todo mundo
acompanha no Globo.com pelo menos duas notícias relacionadas ao futebol
mexicano por semana. Está crescendo. Desde que cheguei aqui a mudança é
notável. Ganhou da Seleção nas Olimpíadas e por pouco não foi mais longe
na Copa aí no Brasil. A vinda do Ronaldinho vai atrair muito mais gente
de nível mundial, pois o México é um mercado muito atrativo. Pagam
muito bem, não é igual à Europa, nem igual à loucura do Brasil, onde
dizem que pagam R$ 800 mil, R$ 900 mil, mas na verdade não pagam. O
importante é que aqui pagam em dia. O futebol aqui é muito rápido, o
time dele é muito rápido e vai correr para ele dar o toque de qualidade.
"assumpção não foi homem com a gente"
A
alegria de Juninho acaba quando o assunto é o Botafogo, clube que mais
defendeu profissionalmente dentro do futebol brasileiro e indispensável
para sua carreira. Ele não economiza duras palavras para definir a
relação que ele e companheiros tiveram com o presidente Maurício
Assumpção em 2009, seu último ano como alvinegro e o primeiro do
mandatário à frente do Glorioso.
Para o defensor, a crise
atual não é novidade. Segundo Juninho, àquela época Assumpção não
cumpriu com promessas feitas. Um dos tratos foi acordado antes da
partida que salvou o Alvinegro da degola no Brasileirão 2009 – a vitória
por 2 a 1 sobre o Palmeiras, no Engenhão, na última rodada (a derrota
significaria a queda, e um empate deixaria o time na dependência do
resultado
de Coritiba x Fluminense). Juninho diz que muitos jogadores,
amedrontados com a possibilidade de queda e incomodados com os atrasos
de salário, não queriam jogar. E diz que ele, Lucio Flavio e Reinaldo
mobilizaram os colegas a jogarem.
– O
Maurício é complicado. Em 2009, antes do jogo contra o Palmeiras,
precisávamos da vitória para não sermos rebaixados. Eram três meses de
salário atrasado. O presidente chorava na sala comigo, tinha gente que
não queria jogar, com medo do que aconteceria caso a equipe perdesse.
Falava comigo, com o Lucio Flavio e o Reinaldo que não deixaria ninguém
sair de férias com salário atrasado. Contava histórias, chorava e dizia e
que iria pagar todo mundo. Conversamos e Deus livramos o Botafogo do
rebaixamento num jogaço que fizemos. Acreditamos nisso. Eu, Reinaldo e
Lucio, como líderes, tratávamos de motivar o elenco. Infelizmente nunca
nos pagaram. Tenho uma mágoa muito grande com o presidente. Ele não foi
homem com a gente - criticou.
Sobre o momento atual, parabenizou os atletas botafoguenses pelo que enxerga como profissionalismo acima do exigido.
– É uma tristeza imensa. Um dia estava comentando com meu filho mais
velho (Patrick, de 14 anos) que isso aí não é de hoje. Não tem como
exigir de alguém que está com sete, oito meses de salários atrasados.
Tem que dar parabéns a esses jogadores do Botafogo, que estão sendo mais
profissionais do que poderiam ser. É muita tristeza a diretoria deixar
chegar a esse ponto. Não sei o que esperar do Botafogo, não sei o que
vai acontecer.
Fogão no coração
Juninho viveu momentos de muita alegria com a camisa do Botafogo (Foto: Reuters)
Juninho
não esconde a mágoa com Assumpção, mas a Estrela Solitária jamais
deixou de bater em seu peito. Durante a entrevista, mostrou estar por
dentro da situação alvinegra no Brasileirão e questionou as dispensas de
Emerson, Edílson, Julio Cesar e Bolívar, peças que, segundo o zagueiro
do Tigres, seriam importantes nesta reta final em função da experiência
de todos. E cobrou que os presidentes dos clubes respondam criminalmente
por falhas no comando dos clubes.
– Enquanto
os presidentes não forem responsabilizados, os clubes continuarão
acumulando dívidas. Por isso o Botafogo tem que mudar de estádio, para
não penhorarem a renda toda para pagar tal jogador (por causa de uma
ação do técnico Joel Santana, o jogo contra o Sport passou do Maracanã
para o Raulino de Oliveira). É um desastre. Falando da parte do
presidente Maurício, receberam muito dinheiro com minha venda e
empréstimo. Me deviam três meses. Fui emprestado para a Coreia, e eles
receberam dinheiro. Depois me venderam para o Tigres, e receberam mais
dinheiro. Mas eu não recebi nada. Tinha feito um acordo em que tirei
metade do que me deviam e aceitei parcelar em 10 vezes. Não pagaram, e
infelizmente tive que chegar às últimas instâncias. A dívida hoje é
muito maior. Fiz tudo para evitar a Justiça. Devo muito à torcida, à
instituição. Não queria isso, mas tenho filho grande para cuidar. O
processo está rolando, e vou acabar penhorando alguma coisa. Mas eu e
meus filhos que nasceram aí no Brasil – Patrick, de 14 anos, e Felipe,
de 10 – torcemos de verdade. Tenho muito carinho pelo Botafogo.
O ex-alvinegro vê o time em situação periclitante no Brasileirão, mas trata um eventual rebaixamento com otimismo. Não torce para que caia, mas faz uma ressalva: se acontecer, seria louvável copiar o exemplo do Corinthians, rebaixado em 2008 e campeão de tudo de 2009 a 2013.
– Não sei se o time vai conseguir se livrar. De repente se cair, que seja para melhorar. O Corinthians é o espelho. Depois que caiu para a Segundona, se reestruturou e hoje está completamente organizado.
O ex-alvinegro vê o time em situação periclitante no Brasileirão, mas trata um eventual rebaixamento com otimismo. Não torce para que caia, mas faz uma ressalva: se acontecer, seria louvável copiar o exemplo do Corinthians, rebaixado em 2008 e campeão de tudo de 2009 a 2013.
– Não sei se o time vai conseguir se livrar. De repente se cair, que seja para melhorar. O Corinthians é o espelho. Depois que caiu para a Segundona, se reestruturou e hoje está completamente organizado.