Tite admite influência de organizadas nos clubes: 'Isso tem que ser barrado'
Ex-técnico do Corinthians diz que já foi impedido de treinar após eliminação para o Tolima e atuou como mediador em protesto de torcedores
Há três dias longe do comando do Corinthians, Tite
admitiu que uma minoria de torcedores influencia negativamente os
clubes de futebol, exigindo participação política e utilizando meios de
coerção para intimidar os profissionais das equipes. Em participação no "Redação SporTV",
o treinador disse que episódios como a violenta briga entre torcidas no
jogo entre Atlético-PR e Vasco, no último domingo, irão se repetir caso
medidas drásticas não sejam tomadas (assista ao vídeo).
- Já tivemos essa situação. É um pouco cultural. Há sempre essa
iniciativa do torcedor, por todos os clubes por onde eu passei, achar
que pode cobrar, te jogar um fogo de artifício, desrespeitar em um
treinamento, achando que isso pode te mobilizar para fazer um jogo
melhor. Isso tem que ser sim barrado. Tem que ser diretivamente, pelas
pessoas que comandam. Tem que cobrar os profissionais de outras formas.
Tite lembra a pressão exercida por parte de torcedores organizados após
a eliminação do Timão para o Tolima, na Libertadores de 2011. Na
competição deste ano, o treinador viveu o que considera o momento mais
triste de sua carreira - a morte do torcedor boliviano em Oruro,
atingido por um sinalizador durante uma partida contra o San Jose, em
abril. Naquele dia, 12 corintianos foram presos acusados de envolvimento
na morte do jovem Kevin Espada.
- Depois do jogo contra o Tolima, não conseguimos treinar. O presidente
pediu para que todos os carros fossem cuidados, e eu resolvi na minha
forma - disse o treinador, lembrando que os veículos foram quebrados por
torcedores.
Técnico Tite participa do Redação SporTV
(Foto: Reprodução SporTV)
(Foto: Reprodução SporTV)
Sem revelar o nome da equipe, Tite recordou uma de suas experiências
profissionais na qual teve de atuar como mediador entre um
desentendimento entre torcedores e parte da diretoria.
- Assumi um clube em uma situação muito difícil. Tinha uma manifestação
no primeiro jogo meu em que a torcida iria ficar de costas, para
reclamar contra dois dirigentes. Fui conversar com as organizadas e
disse que estava assumindo em uma situação difícil. Disse que se não
tivesse o auxílio, teria seis ou sete jogos e viria outro profissional e
seguiria a decadência, o clube seria prejudicado. A responsabilidade
que eu tenho é não admitir indisciplina e não ter a melhor condição de
trabalho possível. Há sim uma interferência, não sei quanto é em cada
clube, mas que o profissional sente que há, sim.