Promotor defende cadastramento de torcedores: 'Coisa muito simples'
Paulo Castilho diz que custos com implantação de sistema biométrico não são altos, e cita exemplo utilizado pela Associação de Futebol Argentino
Depois de mais um grave episódio de violência em estádio do país,
ocorrido em Joinville num confronto entre torcedores de Atlético-PR e
Vasco, ainda tenta-se chegar a medidas de soluções para este grave
problema. No “Arena SporTV”
desta sexta-feira, o promotor de Justiça Paulo Castilho, também diretor
do Departamento de Defesa do Torcedor do Ministério do Esporte,
defendeu o cadastramento dos torcedores e o controle biométrico de
acesso aos estádios. Ele diz que o investimento com equipamentos cabe
aos clubes e à CBF, e ainda poderia ser feito de forma gradativa (assista ao vídeo).
- Esse cadastramento é uma coisa muito simples hoje de ser feito, 99%
dos torcedores são eleitores, então basta um convênio com o Tribunal de
Justiça Eleitoral (TSE) e migraria esses dados, inclusive com dados
biométricos, e os armazenaria num chip dentro de um cartão que seria o
“cartão do torcedor” - explica Paulo Castilho.
Promotor Paulo Castilho defende cadastro de
torcedores (Foto: Reprodução/ SporTV)
torcedores (Foto: Reprodução/ SporTV)
Para defender o investimento no sistema biométrico, o promotor cita
como exemplo a mesma medida tomada pela Associação de Futebol Argentino
(AFA), que pretende recuperar o valor gasto num período de dois anos,
através de publicidade veiculada nos cartões destinados aos torcedores.
- A princípio, esse investimento em esporte é de responsabilidade dos
clubes e da entidade organizadora, e não é tão alto assim. Em casos como
do Maracanã, Salvador e Recife, tenho certeza que os próprios
administradores têm interesse nesse investimento, porque a partir do
momento em que implementarem tais medidas que garantam a segurança do
torcedores, vão aumentar o público e a arrecadação. O Estatuto do
Torcedor exige esse equipamento em estádios com capacidade a partir de
10 mil lugares, e é possível buscar alternativas. Na Argentina, a AFA
está implementando esse sistema de identificação na primeira divisão,
isso vai ser custeado pela própria federação, que vai ter um retorno no
próprio cartão, onde eles vão vender a publicidade em cada cartão por
US$ 1,5 dólar por ano. Isso dará um retorno que em dois anos pagará todo
o investimento, e a partir daí será lucro.
Em novembro, depois de mais de um ano suspenso, o programa Torcida
Legal voltou a registrar as facções organizadas, através do site do
órgão. O governo federal assume a responsabilidade de fazer cumprir o
que determina o artigo 2 do Estatuto do Torcedor, que obriga integrantes
de facções organizadas a manterem cadastro atualizado contendo nome
completo, fotografia, entre outras informações. Esta etapa servirá
somente para informações de cada facção, como nome, para que clube
torce, sede e responsável legal. Somente a partir de fevereiro que será
incluído no cadastro de cada organização os dados de seus filiados.
Briga entre torcidas ainda é um problema sem
solução (Foto: Agência o Globo/Agência Estado)
solução (Foto: Agência o Globo/Agência Estado)
- De nada vale o cadastro se nós não tivermos um banco de dados, que é o
quem tem o Ministério da Justiça e a Secretaria de Segurança Pública,
para cruzar esses dados e também o controle de acesso na portaria. Temos
que fazer o controle de acesso primeiro com a organizada e determinando
o local onde eles fiquem no estádio, porque se não controlarmos o
acesso não adiante termos a identificação da pessoa - destacou Paulo
Castilho.
O diretor do Departamento de Defesa do Torcedor do Ministério do
Esporte ainda acredita que a implantação do sistema precisa ser feita de
forma gradual, mas sem privilegiar os clubes mais ricos, já que lembra
que clubes mais populares e talvez sem tanto poder econômico levam mais
público aos estádios.
- Penso que num primeiro momento nós poderíamos implementar isso na
divisão de elite do futebol brasileiro e nas divisões de elite dos
campeonatos estaduais, e depois íamos aprimorando e expandindo para as
demais divisões, desde que tenha público. Nós temos que analisar que,
embora tenhamos clubes menos favorecidos, times do Norte e Nordeste às
vezes levam mais público do que em São Paulo, então esses têm também que
buscar uma via para implementar essas medidas de segurança. Nós estamos
falando de vida humana, de segurança pessoal, então não podemos
transigir diante de um clube que tem mais condições e outro menos,
segurança é para todo mundo, para quem tem mais dinheiro e para quem tem
menos.