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Uma chance a menos para brilhar: goleiros lamentam finais sem pênaltis

Com nova regra do Carioca, campanha na primeira fase definirá o vencedor em caso de empate. Desde 2004, Fla nunca perdeu nas penalidades

 

Por GLOBOESPORTE.COM (*) Rio de Janeiro (RJ)


O regulamento do Carioca mudou, e aqueles que gostam de emoção além do último minuto precisarão se acostumar à nova realidade. Não haverá mais disputa por pênaltis nos jogos decisivos das Taças Guanabara e Rio. Podem esquecer aquela corrente de jogadores no meio de campo, o silêncio nas arquibancadas que antecede às cobranças e o frio na barriga no momento de cada chute. E sabe quem mais vai sentir falta disso tudo? Os goleiros, que encaram as disputas como uma grande oportunidade de se tornar heróis de seus times.

Montagem Goleiros - Felipe (Flamengo) - Jefferson (Botafogo) - Diego Cavalieri (Fluminense) - Alessandro (Vasco) (Foto: Editoria de Arte) 

Felipe, Jefferson, Cavalieri e Alessandro lamentam finais de turno sem pênaltis (Foto: Editoria de Arte)

Nas semifinais da Taça Guanabara, marcadas para o próximo fim de semana, Flamengo e Vasco, que terminaram em primeiro lugar de seus grupos, jogam pelo empate contra Botafogo e Fluminense, respectivamente. Ainda assim, Felipe e Alessandro, que, se não levarem gols já estarão garantidos na decisão, admitem que vão sentir saudade das disputas. O camisa 1 do Flamengo, inclusive, foi mais incisivo na resposta, principalmente quando lembrou do brilho particular que viveu no Carioca de 2011. Na semifinal e final do primeiro turno daquele ano contra Botafogo e Fluminense, ele defendeu duas cobranças em cada jogo, após empate por 1 a 1 em ambas as partidas. Na decisão da Taça Rio, o Rubro-Negro derrotou o Vasco também nos pênaltis para garantir o título estadual invicto.

- É um charme que você perde. A torcida gritando e os jogadores dando força. É a chance de o goleiro aparecer. Uma oportunidade de ganhar moral com jogadores, torcida e diretoria. Por outro lado, nada mais justo do que beneficiar quem tem a melhor campanha. O primeiro classificado pode ganhar todos os jogos, empatar e perder nos pênaltis. É uma balança difícil. Até o Brasileiro mudou por isso. Mas não dá para negar que gosto muito desse momento - opinou Felipe.

Ele recordou quando se destacou pelo Rubro-Negro:



- Lembro muito bem daquelas disputas (em 2011) pela forma como foram. Cheguei desacreditado por grande parte e ainda tinha o histórico do Bruno, que era ídolo. Quem me bancou foi o Vanderlei (Luxemburgo). Se fosse mal, o torcedor já ia pensar diferente. Pude pegar dois pênaltis logo na primeira decisão. Aquilo alí já criou uma confiança.

Desde 2004, quando foi implementado o formato atual de disputa do Carioca, o Rubro-Negro jogou quatro disputas por pênaltis em um dos turnos e ganhou todas. Só em 2011, ano em que o Flamengo ganhou o título, foram três vitórias dessa forma. Se forem somadas as duas vezes em que venceu a decisão do Carioca nos pênaltis, em 2007 e 2009, ambas contra o Botafogo, o número aumenta para seis triunfos e nenhuma derrota. Este ano, a final do Carioca pode ter pênaltis, mas só em uma condição. Se os dois clubes fizerem o mesmo número de pontos na fase classificatória, somando os dois turnos. Caso contrário, quem tiver a melhor campanha joga por dois resultados iguais.

Jefferson, do Botafogo, defendendo o pênalti do Adriano na final da Taça Rio de 2010. (Foto: Ivo Gonzalez / O Globo) 
Jefferson parou o Imperador  2010
(Foto: Ivo Gonzalez / O Globo)


O rival de Felipe na semifinal de domingo, às 16h, também já se deu bem nos pênaltis e se sente um pouco órfão com o fim das penalidades. Apesar de não ter brilhado em uma disputa no Carioca, foi em uma cobrança de pênalti durante um jogo, contra o próprio Flamengo, que Jefferson ganhou destaque pouco tempo depois que retornou ao Botafogo. Na final da Taça Rio de 2010, ele defendeu uma cobrança de Adriano e ajudou a equipe na vitória por 2 a 1, que deu o título estadual ao Alvinegro. O camisa 1 aproveita para fazer uma sugestão para os próximos regulamentos:

- Nas semifinais eu acho até justo, mas nas finais as equipes deveriam entrar em igualdade de condições. Vejo como merecimento pelos clubes terem chegado até ali. Favorece o espetáculo, não pelos pênaltis em si, mas por evitar de um time jogar baseado no regulamento. O jogo fica mais franco. Não tem como negar que para nós era uma oportunidade a mais de brilhar. Não é algo que a gente quer que aconteça, é sempre bom resolver o jogo antes - explicou Jefferson.


Disputa que mais se repetiu foi entre Flu e Vasco



A disputa por pênaltis que mais se repetiu no Carioca desde 2004 foi entre Fluminense e Vasco, clássico que no próximo sábado, às 18h30m, decidirá uma das vagas na final do primeiro turno deste ano. Das 15 vezes em que houve a disputa, três confrontaram tricolores e cruz-maltinos. O Fluminense leva vantagem por ter vencido duas vezes, nas semifinais da Taça Rio de 2005 e 2008 , enquanto o Vasco levou a melhor na semifinal da Taça Guanabara de 2010). O goleiro vascaíno Alessandro faz coro com Felipe e Jefferson e afirma que os pênaltis tornam os clássicos mais saborosos. Ele ganhou a vaga de titular no time quando Fernando Prass deixou o clube no início do ano e fará o primeiro jogo decisivo pelo Cruz-Maltino.

- Todo goleiro gosta de uma disputa por pênaltis, até porque a responsabilidade é do batedor. A chance de um goleiro se consagrar é maior. Por outro lado, é mais justo com quem tem a melhor campanha levar vantagem. Olhando pelo lado do goleiro, faz uma falta tremenda. A maioria dos goleiros consagrados defendeu pênaltis em uma disputa ou em uma decisão. A gente nunca quer que vá para os pênaltis, mas, se for, é muito melhor para nós do que para o batedor. Ninguém lembra de quem fez, mas de quem perdeu e de quem defendeu - disse.



Mas há também quem não faça a menor questão dos pênaltis, mesmo já virando herói por defender cobrança de um ídolo rival. Diego Cavalieri, que pegou o chute de Loco Abreu na semifinal da Taça Guanabara de 2012 e garantiu o Fluminense na decisão do primeiro turno, não vê dano algum aos arqueiros pela mudança do regulamento.

- Este ano optaram por outro regulamento, que dá ao primeiro colocado vantagem. Não vejo como uma coisa ruim, principalmente para o goleiro. Não é uma decisão por pênaltis que vai fazer de um goleiro herói ou não. O importante é a regularidade e ter o equilíbrio. Claro que nos pênaltis, quando o goleiro vai bem, ganha destaque. Mas todos têm responsabilidade. Não adianta só o goleiro defender, os cobradores têm de fazer também - disse o tricolor.

Vitória do Boavista sobre o Flu foi a maior zebra dos pênaltis

A única vez em que um clube pequeno eliminou um grande nas penalidades aconteceu em 2011. Na semifinal da Taça Guanabara, o Boavista venceu o Fluminense, que havia conquistado o título brasileiro poucos meses antes. Após empate por 2 a 2 no tempo normal, Conca, principal ídolo tricolor à época, desperdiçou uma das cobranças e virou o vilão da disputa. O clube de Saquarema venceu por 4 a 2, e o goleiro Thiago saiu como herói.

- Foi uma das melhores sensações que tive no futebol até hoje. Infelizmente, aqui no Brasil o segundo lugar dificilmente é valorizado. Lógico que durante a semana da final estávamos todos supervalorizados. Como perdemos, ainda mais com um gol do Ronaldinho, o foco ficou todo no Flamengo. Mas é sempre gostoso lembrar daquela semifinal e do sentimento de sair do Engenhão, encontrar minha esposa e meu filho orgulhosos por eu ter sido decisivo. Acho justo que o time de melhor campanha leve vantagem. Porém, para o bem do campeonato, seria interessante que não houvesse essa vantagem. Certamente ninguém gosta de decidir uma vaga nos pênaltis, além dos goleiros, claro. É a chance que temos de brilhar - lembrou Thiago.

 

Houve apenas mais uma disputa de um clube grande contra um pequeno. Na semifinal da Taça Guanabara de 2004, o Vasco levou a melhor sobre o Friburguense depois do empate por 1 a 1 no tempo normal.

Na contramão, goleiro do Bangu apoia novo regulamento 

Se quase todos os goleiros dos grandes clubes garantem que vão sentir saudades dos pênaltis, Getúlio Vargas, camisa 1 do Bangu, vazado apenas quatro vezes na competição, pensa diferente. Mesmo sabendo que, se conseguir chegar a uma semifinal dificilmente ficará em primeiro lugar, ele destaca que o regulamento valoriza a competição inteira:

- Eu tenho uma visão de futebol diferente. Acho que é um momento em que o goleiro pode passar a ser protagonista. Em contrapartida, eu acho que isso também faz com que as equipes se preparem melhor para os turnos. Requer um trabalho. Olhando como um todo, é mais justo e mais produtivo. Agora vai obrigar as equipes de maior porte a entrar desde o início querendo ganhar. Sinceramente eu prefiro que seja assim, é mais justo.

Vilões dos pênaltis nas semifinais e finais de turno

- Loco Abreu: na semifinal da Taça Guanabara de 2012, o atacante uruguaio perdeu o pênalti decisivo. Após a defesa de Cavalieri, o Tricolor eliminou o rival e passou à final.

- Conca: na semifinal da Taça Guanabara de 2011, o meia argentino perdeu uma cobrança. A defesa do goleiro Thiago, do Boavista, tirou o Fluminense da decisão do primeiro turno.

- Pablo: recém-promovido ao elenco principal, o garoto perdeu o pênalti que eliminou o Vasco na semifinal da Taça Rio de 2008, contra o Fluminense.

- Dudar: o zagueiro do Vasco foi vilão duas vezes em 2007. Na semifinal da Taça Guanabara, contra o Flamengo, e na semifinal da Taça Rio, contra o Botafogo.

Decisões por pênaltis desde 2004 (Taça Guanabara e Taça Rio)

- Botafogo 1 (3) x (4) 1 Fluminense - Semifinal da Taça Guanabara 2012
- Vasco 0 (1) x (3) 0 Flamengo - Final da Taça Rio 2011
- Fluminense 1 (4) x 1 (5) Flamengo - Semifinal da Taça Rio 2011
- Flamengo 1 (3) x (1) 1 Botafogo - Semifinal da Taça Guanabara 2011
- Fluminense 2 (2) x (4) 2 Boavista - Semifinal da Taça Guanabara 2011
- Vasco 0 (6) x (5) 0 Fluminense - Semifinal da Taça Guanabara 2010
- Fluminense 1 (5) x (4) 1 Vasco - Semifinal da Taça Rio 2008
- Botafogo 4 (4) x (1) 4 Vasco - Semifinal da Taça Rio 2007
- Volta Redonda 1 (4) x (5) 1 Cabofriense - Semifinal da Taça Rio 2007
- Vasco 1 (1) x (3) 1 Flamengo - Semifinal da Taça Guanabara 2007
- Cabofriense 1 (3) x (4) 1 Madureira - Semifinal da Taça Rio 2006
- América 1 (5) x (4) 1 Cabofriense - Semifinal da Taça Guanabara 2006
- Fluminense 1 (8) x (7) 1 Vasco - Semifinal da Taça Rio 2005
- Americano 0 (2) x (3) 0 Volta Redonda - Final da Taça Guanabara 2005
- Vasco 1 (5) x (4) 1 Friburguense - Semifinal da Taça Guanabara 2004


* Raphael Bózeo, estagiário, sob a supervisão de Eduardo Peixoto