Jogo virtual que simula briga entre organizadas provoca reação do MP
Embora possa ser considerado diversão pelos jogadores, especialistas dizem que game pode estimular violência entre torcidas nos estádios
Por SporTV.com Rio de Janeiro
Ele é virtual, mas é capaz de retratar uma realidade bastante comum nos
estádios brasileiros e nas ruas do país. Adaptação pirata de um jogo de
ação que foi proibido no Brasil, acusado de estimular a violência, o
game que simula brigas entre torcidas organizadas tem chamado a atenção
do Ministério Público e outros órgãos. Ele preocupa pelo poder de
incitar a violência (Assista ao vídeo).
Antes do duelo online, o jogador pode escolher a torcida que quer
integrar, a partir das opções para cada região do país, e optar pelo
tipo de luta que pretende usar. Em uma cidade virtual, os torcedores
saem em bandos para brigar com rivais, nas ruas ou nas arquibancadas,
enfrentam a polícia e ganham pontos conforme vão cometendo ações
violentas. E o que pode parecer diversão ganha outra conotação.
Acostumado a trabalhar nos juizados criminais instalados nos estádios
do Rio de Janeiro, o promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado (Gaeco), Marcelo Arsênio, destacou a necessidade de
investigar se há ligação entre os jogadores e as organizadas,
considerando que, na internet, há grupos de pessoas que acessam esses
jogos virtuais associados a nomes de torcidas, muitas delas conhecidas e
algumas com histórico de violência.
- Em uma primeira análise, sem dúvida, consigo identificar ma incitação
à violência, a prática de crime. A gente tem que saber quem são as
pessoas que estão atrás disso, o que elas querem, qual a finalidade,
porque o jogo traz imagens de símbolos de torcida organizada - disse
Arsênio, em entrevista ao "SporTV News".
Promotor Marcelo Arsênio compara jogo virtual
com realidade brasileira (Foto: Reprodução SporTV)
com realidade brasileira (Foto: Reprodução SporTV)
Embora muitos nomes de torcidas apareçam no jogo, não há uma ligação
oficial das organizadas com o jogo. E também não significa que quem
jogue virtualmente vá levar isso para a realidade. Mesmo assim, a
semelhança preocupa. O temor é que o game sirva de "inspiração" para a
prática.
- O jogo mostra exatamente o que acontece na realidade. O sujeito joga e
se vê estimulado a continuar praticando aquilo que está na ficção na
realidade - acredita o promotor.
A psicóloga Andréia Calçado confirma: o risco existe. A preocupação é ainda maior com os torcedores mais jovens.
- Não é para todos os adolescentes que (o jogo) vai causar problema ou
influência. Mas, para aquele que já tem dificuldades em termo de
estruturação familiar e de personalidade, que já tem transtorno
psiquiátrico, pode ser algo que estimule a agressividade intensa, a
agressão ao outro e a realização de atos ilegais.
Diretor da Federação de Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro
(Fetorj), Flávio Martins discorda da utilização dos escudos de torcidas
brasileiras no game e apoia uma investigação.
- Vamos fazer uma carta, via Fetorj, para que seja apurado. É mais uma
forma de denegrir a imagem da torcida e ligar ela à violência.
Jogo virtual simula briga entre torcidas organizadas de nomes conhecidos no Brasil (Foto: Reprodução SporTV)
Para o coronel João Fiorentini, comandante do Grupamento Especial de
Policiamento em Estádios (Gepe), as organizadas têm papel fundamental
neste processo.
- Se os presidentes e representantes de torcida organizada fizerem
valer o seu direito e retirar a presença de sua marca, acho que esse
jogo tende a ser extinto.