Lembra Dele? Léo Inácio, ex-Fla, Flu, Bota e Vasco, se aposenta em paz
Após carreira turbulenta, meio-campista vira ídolo e artilheiro no Audax e já se torna dirigente do clube. Ele rebate a fama de 'chinelinho'...
Na nova função, o ex-atleta espera distribuir as vivências, boas e
ruins, que o futebol lhe ofereceu. Não foram poucas: início promissor e
títulos no Flamengo, passagens pelas seleções brasileiras de base,
rebaixamentos com Botafogo e Grêmio, decepções em Fluminense e Vasco,
redenção no Audax. Ele carrega boas lembranças. Cita o aprendizado que
teve com seus melhores treinadores, Paulo Autuori e Abel Braga. E não
esquece dos perigos que o cercam no futebol:
- Tem muita mentira, muita falsidade.
Os altos e baixos da carreira deram rótulos a Léo Inácio: de atleta habilidoso, técnico, mas pouco presente - os mais incomodados chegaram a tachá-lo de "chinelinho". Somados prós e subtraídos contras, ele valoriza os 17 anos como jogador profissional.
- Tem muita mentira, muita falsidade.
Os altos e baixos da carreira deram rótulos a Léo Inácio: de atleta habilidoso, técnico, mas pouco presente - os mais incomodados chegaram a tachá-lo de "chinelinho". Somados prós e subtraídos contras, ele valoriza os 17 anos como jogador profissional.
- Houve erros e acertos, algo normal numa carreira. Tive vitórias e
derrotas. Mas valeu. Eu não faria nada diferente do que fiz. Valeu pelas
conquistas e pelas derrotas. E tive esse final, um final legal, em um
projeto novo.
Léo Inácio segue no Audax, mas agora como dirigente (Foto: Alexandre Alliatti / Globoesporte.com)
O "Léo Inácio do Flamengo"
Leonardo Inácio chegou ao Flamengo com sete anos. Só saiu de lá aos
24. Foi tricampeão carioca e também ganhou a Copa Mercosul de 1999 (relembre no vídeo ao lado).
Mesmo que tenha jogado em todos os outros grandes do Rio, foi a camisa
rubro-negra que mais deixou lembranças nele. A ponto de, nas ruas, ele
ainda ser identificado como um ex-jogador do Fla, não dos demais clubes.
- O Flamengo foi o que marcou mais, por toda a história na base, os 17
anos lá. Muitos que começaram lá atrás comigo ficaram no meio do
caminho. Isso mostra que fui vitorioso. Os títulos da Mercosul, do
Estadual, me marcaram muito. Ainda hoje, depois de ter passado muito
tempo e mesmo tendo rodado pelos quatro grandes, o pessoal me para na
rua e fala: "Olha, é o Léo Inácio do Flamengo."
Relação com o Flamengo foi longa e deixou marcas em Léo (Foto: Marcelo Regua / Agência O Dia)
A criação na Gávea permitiu que Léo criasse uma das amizades mais
marcantes que fez no futebol. Ele gosta de dizer que tem mais amigos
fora do campo do que saídos do mundo da bola, mas abre exceções. E uma
delas é Romário, com quem até dividiu quarto nas concentrações - depois,
seriam colegas no Fluminense também.
- Nós estamos um pouco distantes agora, até pelo caminho que cada um
tomou, mas fica o carinho, a amizade, o respeito. Jogamos juntos no
Flamengo e no Fluminense. Comigo, ele era 100%. Era um amigo de verdade.
A gente era companheiro de quarto. Uma amizade muito boa. Já nos
conhecíamos antes, e isso se fortaleceu no Flamengo. Ele me ajudou
bastante, até pela experiência que tinha. Ele é 11 anos mais velho. Às
vezes, dava os esporros dele, mas foi muito importante para mim.
Léo Inácio e Romário dividiam concentração no Flamengo (Foto: Marcelo Regua / Agência O Dia)
Léo Inácio deixou o Flamengo em 2000. E já viveu sua primeira
experiência em um rival de seu clube de formação. A passagem pelo
Botafogo rendeu problemas e decepções ao jogador. Ele até gostou de seu
desempenho (recorda de boatos de que iria para a Seleção), mas ficou
meses e mais meses sem receber salários e ainda amargou um rebaixamento.
Hoje, está na Justiça contra o clube, em busca do dinheiro que não
recebeu.
- Cheguei ao Botafogo em 2001, com o Paulo Autuori. Depois, o negócio
começou a complicar, especialmente por causa de salário. Era muito
atraso. Alguns jogadores recebiam, e outros não. O vestiário foi para o
beleléu. Aí acabou com o rebaixamento. O Botafogo até queria que eu
ficasse, mas tinha isso dos salários atrasados. Saí de 2002 para 2003 e
ainda não tinha recebido outubro de 2001. Eu nem sabia mais o que eles
me deviam.
Lesões atrapalharam jogador na passagem pelo
Fluminense (Foto: Agência Estado)
Fluminense (Foto: Agência Estado)
Depois disso, o jogador rumou para o Fluminense, onde colecionou
lesões. Mal conseguiu jogar. E passou a lidar com rumores de pouco
comprometimento - a fama de "chinelinho".
- No Fluminense, tive muitas lesões. Cheguei com os caras em
pré-temporada. Teve a primeira rodada, e na segunda eu não estava bem
fisicamente. Já me machuquei. Quando voltei, me machuquei de novo.
Tentei voltar, e me machuquei de novo. (...) Esses rótulos são criados.
Fazia quatro anos que não me machucava. Quem está fora, vê como quer.
Ninguém viu que fiz uma pré-temporada de uma semana pra já começar a
jogar.
Faltava um clube para Léo Inácio fechar o quarteto carioca. E
aconteceu. Na prática, a passagem dele por São Januário foi quase nula.
Só disputou amistosos. Por uma preferência de Renato Gaúcho, técnico
cruz-maltino na época, não foi utilizado em jogos oficiais. Mas ganhou o
direito de dizer que vestiu todas as principais camisas do Rio de
Janeiro.
Léo Inácio nos tempos de Vasco, onde só jogou
amistosos (Foto: Reprodução)
amistosos (Foto: Reprodução)
- Nunca tive isso de jogar nos quatro, porque sempre fui do Flamengo e
pensava em só vestir uma camisa. Mas saí do Flamengo e fui para o
Botafogo. Depois já fui para o Fluminense. Aí fiquei com esse gostinho
de ir para o Vasco, nem que fosse para só colocar a camisa. Acabei só
jogando amistosos lá. Foi decisão do Renato, e não tenho nada contra
ele. Mas fiquei só três meses lá. De qualquer forma, coloquei as camisas
dos quatro clubes mais importantes do Rio. É um feito marcante. Isso me
orgulha muito. Joguei nos quatro grandes do Rio, joguei no Juventude em
uma época em que era muito forte, joguei no Grêmio. É uma carreira
bacana.
Ano trágico no Grêmio e experiência no exterior
A queda de produção nas passagens por Fluminense e Vasco fez diminuir o
mercado para Léo Inácio. Mas ele logo voltaria a defender um clube
grande. Ao jogar pelo Juventude, o jogador chamou a atenção do Grêmio.
Era a chance para o recomeço com uma camisa de peso. Mas não poderia ter
dado mais errado.
Não conseguimos formar um time. O vestiário não era legal mesmo"
Léo Inácio, sobre o Grêmio de 2004
O atleta participou do pior ano da história tricolor. Em 2004, o clube
gaúcho foi rebaixado no Brasileirão. Ficou na lanterna da competição,
nove pontos atrás do penúltimo. O elenco daquela temporada foi cercado
por relatos de farras e repetidos atos de indisciplina.
- Cheguei em março ao Grêmio. Era um elenco bom, mas não tinha um time.
E o vestiário não era legal. Teve muita gente que chegou de fora, e já
tinha um pessoal da casa, e isso dividiu um pouquinho. Trocaram várias
vezes de treinador. Cheguei com o Adilson (Batista), e aí veio o (José
Luiz) Plein, o Cuca, o Claudião (Cláudio Duarte). Não conseguimos formar
um time. Até hoje, muita gente pergunta como era o vestiário. Não era
legal mesmo.
Dos principais clubes brasileiros, o Grêmio foi o último que Léo Inácio
defendeu. Depois, ele perambulou por equipes menores e viveu
experiências no exterior - primeiro na Bélgica, de onde deu no pé por
não receber, e depois no Miami, dos Estados Unidos, a convite de Zinho,
na época treinador da equipe - e hoje diretor do Flamengo.
A redenção
A carreira de Léo Inácio caminhava para o final. Mas havia um último
ato. Em 2010, ele recebeu um convite do Audax, clube nascido três anos
antes, em 2007. A missão: ser a referência do time na batalha para ir à
primeira divisão do futebol carioca. O jogador não tinha como calcular
que ali, nos passos finais de sua trajetória, ele criaria alguns dos
laços mais fortes que o futebol lhe ofereceu - comparáveis apenas aos do
Flamengo, seu primeiro lar no esporte. No último dia 10, com vitória de
1 a 0 sobre o Goytacaz, o meio-campista abandonou os campos. E com a
missão cumprida: o Audax está na Série A do Estadual.
Site do Audax deixa mensagem de agradecimento ao ex-jogador (Foto: Reprodução)
- Foi emocionante, até por ter tido uma homenagem aqui. Eu estava me
preparando para esse momento. Sabia que chegaria a hora de parar. Quando
conheci o projeto do clube, vim com o objetivo de subir para a Série A.
Se colocasse no primeiro ano, anteciparia essa aposentadoria.
Conseguimos a conquista da Taça Rio, e aí foi mais um ano em que fiquei.
Mas 2011 não foi legal. Não fomos bem na Série B e saímos na segunda
fase da Taça Rio. Em termos individuais, foi bom para mim, porque fiz
gols, mas acabou não sendo bom para o time. Fiquei com aquela obrigação,
aquela obsessão, de colocar o time na primeira divisão. Deu certo,
conseguimos, e eu já estava preparado para encerrar. De cabeça, foi
muito tranquilo.
Léo Inácio valoriza ter se aposentado em um momento positivo. Não foi
em um clube grande, mas foi com o carinho de uma equipe em ascensão. O
Audax tem estrutura forte, espaços adequados para os atletas, bons
campos de treinamento. E agora inicia uma nova etapa, na elite carioca,
ao mesmo tempo em que Léo começa um novo momento de sua carreira, como
dirigente - fez dois cursos de gestão no esporte para se preparar. Por
mais que valorize tudo que viveu, de bom e de ruim, em alguns dos
maiores times do Brasil, ele sente que não poderia haver melhor lugar
para dar esse passo.
- Sou apaixonado por esse clube - resume.