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Mestre em conter egos, Oswaldo diz que Brasil precisa de mais Seedorfs

Campeão com Edilson e Marcelinho no Corinthians, técnico se entende perfeitamente com o holandês no Bota e lamenta desperdício de Jobson

 

Por GLOBOESPORTE.COM Rio de Janeiro



A relação entre o técnico Oswaldo de Oliveira e os jogadores do Botafogo é de extrema confiança. Não há no grupo quem seja contra o seu trabalho, tanto que, no fim fim do ano passado, o elenco foi fundamental para a permanência do treinador no clube. Ali, no momento de dificuldade, a diretoria percebeu a ligação que existia.

O temperamento e a forma de trabalhar fizeram com que essa relação se estabelecesse desde a primeira oportunidade de Oswaldo como treinador. Em 1999, ele assumiu o Corinthians pós-Luxemburgo, com jogadores como Vampera, Rincón, Marcelinho e Edilson. Mesmo assim, conquistou o grupo e conquistou o título mundial em 2000.

- Eles gostavam muito de mim, porque eu já tinha passado um ano como auxiliar. Era confidente deles. Lembro que na época havia um conflito entre Marcelinho e Edilson, aquela briga de egos, porque os dois eram destaques. Quando tive a responsabilidade de assumir o time eu fui direto nos dois. Chamei e os fiz entender que, juntos, eles seriam imbatíveis, que se eles estivessem brigando nós não íamos conseguir nada. Eles entenderam e se tornaram até amigos depois disso - disse Oswaldo, em entrevista ao ESPORTE ESPETACULAR.

O aprendizado na relação com um grupo de 30 jogadores e personalidades variadas já fez Oswaldo ganhar a confiança de Seedorf, que o comparou a Carlo Ancelotti e Gus Hiddink. Agora, com o passado do Botafogo como pano de fundo, ele espera que essa mesma experiência faça com que repita o sucesso que teve no Corinthians.

Oswaldo de Oliveira entrevista  (Foto: Thales Soares) 
Oswaldo de Oliveira fala sobre o passado com fotos de times  do Botafogo ao fundo (Foto: Thales Soares)
Seedorf
"Olha, mais Seedorfs nós precisaríamos, né. Nós temos grandes jogadores e grandes personalidades, mas ele realmente, como o Botafogo importou da Europa, do Milan, é um jogador que jogou nesse nível mais avançado, mais organizado, e tem trazido  muita coisa importante para nós. Eu acredito que transcende o Botafogo, e tenho visto alguns setores da imprensa falando sobre isso. Acho que o legado do Seedorf no futebol brasileiro vai além dos muros do Botafogo."

A personalidade do holandês
"Ele tem uma interferência muito grande na formação dos jovens jogadores. É um cara muito atento e pontual nas observações. Faz isso sem interferir, sem menosprezar. Mas é acima de tudo disciplinado e respeitador. Claro que, no dia a dia, muitas ideias dele se contrapõem às minhas, e toda vez que eu me imponho, ele respeita, e aceita, embora ele algumas vezes discorde, mas ele tem esse lado disciplinado que é muito bom também."

Seedorf e Oswaldo de Oliveira no treino do Botafogo (Foto: Jorge William / Ag. O Globo) 
Seedorf conversa com Oswaldo de Oliveira no
treino (Foto: Jorge William / Ag. O Globo)
Estreia como técnico
"Ainda em 1983, eu era preparador físico no Charja Club, lá nos Emirados Árabes, nosso treinador era o Procópio Cardoso. Ele teve necessidades urgentes de retornar ao Brasil e eu assumi por um turno todo. Mas, aqui no Brasil, como treinador de uma grande equipe, realmente foi no Corinthians, em 1999. Perdemos de  6 a 1 para o Botafogo. No primeiro tempo já estava 5 a 1. Não tirei nada daquilo. Apaguei."

Duelo de egos no Corinthians
"Eles gostavam muito de mim, porque eu já tinha passado um ano como auxiliar. Era confidente deles. Lembro que na época havia um conflito entre Marcelinho e Edilson, aquela briga de egos, porque os dois eram destaques. Quando tive a responsabilidade de assumir o time eu fui direto nos dois. Chamei e os fiz entender que juntos eles seriam imbatíveis, que se eles estivessem brigando nós não íamos conseguir nada. Eles entenderam e se tornaram até amigos depois disso. O Edílson com essa fama de capetinha, para mim ele é um anjinho. E o Marcelinho era um cara que puxava fila no treinamento, que estimulava, o tempo todo otimista, além do potencial técnico."

Emoção no Mundial de  2000
"O nosso time estava estafado. Naquele jogo no Maracanã (contra o Vasco), de 120 minutos, foi um negócio impressionante. E a outra lembrança grande que eu tenho, maravilhosa, porque naquele dia, começou o 'todo poderoso Timão', a torcida nunca tinha cantado aquilo."

Lembrança mais tenra 
"Meu pai era alucinado por futebol. Ele era vascaíno e me vestia de Vasco e aos meus irmãos também. Lembro que nós acompanhamos pelo rádio a primeira vez que o Pelé jogou pela seleção brasileira no Maracanã, num amistoso contra a Argentina. E eu me lembro dele me dizendo: vai entrar um garoto de 16 anos, que joga no Santos. Isso é coisa de 1957."
É um jogador (Neymar) que eu admiro muitíssimo, ele é uma raridade, sabe. É um jogador do nível dos grandes brasileiros que eu vi, eu acho que não seria oportuna a saída dele agora por causa da Copa do Mundo"
Oswaldo de Oliveira
Neymar
"De antemão é um jogador que eu admiro muitíssimo, ele é uma raridade, sabe. É um jogador do nível dos grandes brasileiros que eu vi, eu acho que não seria oportuna a saída dele agora por causa da Copa do Mundo. É indubitável que o futebol na Europa é mais organizado, mais competitivo, tem muito mais atrativo de marketing, tem muito mais dinheiro, então isso atrai. Acho que a tendência é que ele depois se transfira para um grande da Europa."

Mano Menezes
"Fiquei muito triste com a saída do Mano. Achei muito inoportuna, não era o momento. Ele vinha fazendo, na minha opinião, um trabalho equilibrado, de muito bom senso. Mas por outro lado, a volta do Felipão, e coadjuvado pelo Parreira, para mim é um negócio imenso. Nós precisamos da experiência dele. Quando entrou o Mano, poderia ter entrado o Felipe, mas como o Mano começou ele deveria ter seguido o caminho, entende? É pena que o Felipe tenha entrado em cima da Copa do Mundo.

Barcelona
"É a essência do futebol em conjunto. O Real Madrid é a essência do futebol luxuoso. Eu escutei o Pep Guardiola dizer que a inspiração é o futebol brasileiro. O que não cabe aqui é tentar fazer isso nos campos que nós tempos. Além da matéria prima, eles contam com campos maravilhosos."

Jobson
"Na copa do Mundo de 86, a Dinamarca despontou com um timaço. Era a laranja mecânica outra vez. E o debate na época era como pode um país com 18 milhões de habitantes conseguir reunir uma geração dessas. Refleti bastante e concluí que eles não desperdiçam. Nós desperdiçamos demais, nós estamos desperdiçando o Jobson. Eu fiquei espantado. Voltando do Japão, nos primeiros treinamentos do Jobson, de onde ele pegava era gol. A gente desperdiça, forma mal, educa mal. Nós somos um país sem dimensão, de altos e baixos. Mas o maior problema do Jobson não era aqui dentro, era fora. Porque ele vinha aqui e ficava três, quatro horas. E aqui ele ia muito bem. Treinava, se relacionava razoavelmente bem, mas quando saía é que era o problema."

Loco Abreu
"A proposta foi que em alguns jogos ele ficasse na reserva, mas não aceitou e quis ir embora. Insisti muito para que ficasse. Conversei, pedi às pessoas, mas ele decidiu. Algumas coisas aconteceram, e quando ele quis voltar eu era contra."

Rafael Marques x Loco Abreu
"Tecnicamente ele (Rafael) sempre foi (melhor). Passe, movimentação. Agora, o Rafael ele passou 10 anos fora. Ele não era a opção para vir, para substituir o Loco Abreu. Porque a gente não queria substituir o Loco. Nós queríamos trazer um outro jogador para jogar com ele."