Especialistas alertam técnicos 'gritões' sobre riscos do exagero para a saúde
Treinadores forçam a voz até mesmo nos treinos, mas é em dias de jogo,com o barulho da torcida, que eles acabam comprometendo as cordas vocais

Não é raro ver os treinadores de futebol nas entrevistas coletivas
roucos ou até sem voz. Mas nem sempre a culpa é de um resfriado, como
aconteceu recentemente com Luiz Felipe Scolari,
que sentiu os efeitos da queda da temperatura na viagem para a Europa
com a seleção brasileira. Muitas vezes, Felipão e outros técnicos ficam
assim de tanto gritar à beira do gramado, o que é um risco para a saúde.
Na ocasião, antes do amistoso com a Inglaterra, os gritos do treinador
durante o treino contribuíram para que a situação se agravasse. Em dia
de jogo, o esforço é ainda maior, considerando que o barulho da torcida
faz com que os técnicos tenham que falar ainda mais alto, o que acaba
sendo uma agressão às cordas vocais, como explica a fonoaudióloga
Déborah Feijó.
- O que vai acontecer é que a gente vai ter um desgaste na própria
corda vocal que pode causar um edema ou alguma outra alteração, causando
uma mudança na voz fazendo com que eu fique popularmente rouco - disse.
O técnico Estevam Soares, que já comandou clubes como Portuguesa e Botafogo, conhece muito bem estas consequências.
- Há alguns anos que venho enfrentando esse problema, um problema muito
sério. Já frequentei otorrino (otorrinolaringologista), fonoaudiólogos e
sofro muito. Com qualquer esforço mais elevado eu perco a voz. Não me
poupo e esse que é o grande problema - disse o treinador, que deixou o
Atlético Sorocabense em fevereiro.

Caio Júnior acha difícil segurar o grito à beira do campo (Foto:Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
Caio Júnior,
técnico do Vitória, sabe que os gritos são exagerados e até tenta
deixar a conversa para o vestiário, mas nem sempre é possível.
- Existem momentos em que você tem que gritar porque é muito difícil o
jogador ouvir dentro do campo em função da torcida - afirmou.
Com o grito, as cordas vocais vibram com muito mais força. Quanto maior
a intensidade da fala, maiores os riscos, sobretudo se for um esforço
repetitivo, como geralmente acontece com os treinadores. O
otorrinolaringologista Henri Ugadim Koishi explica como isso pode afetar
a saúde.
- Se ele tiver uma lesão, uma inflamação ou um pequeno sangramento na
corda vocal, o que pode acontecer com quem grita muito, e se com a corda
vocal comprometida ele continuar fazendo esse esforço intenso, a lesão
pode se agravar ou até tornar-se crônica. Muitas vezes é necessário um
tratamento com medicação e até mesmo cirurgia, em alguns casos -
explicou.