Do silêncio na preleção ao apoio da família: a história do título de Seedorf
Holandês não desgruda de tablet e telefone celular, atende a torcedores na chegada ao Engenhão e entra no clima do jogo durante aquecimento
Um dia de campeão não é simples, nem mesmo para quem está mais do que acostumado. Aos 36 anos, Seedorf
concentrou-se na noite de sábado com os companheiros de Botafogo na
sede de General Severiano, à espera da chance de levantar o seu primeiro
troféu, domingo, na final da Taça Guanabara, contra o Vasco, no
Engenhão.
Foi apenas o primeiro passo das 24 horas que antecederam o seu primeiro
título pelo Alvinegro. Seedorf, mais uma vez, ficou sozinho em seu
quarto na concentração. Na maior parte do tempo, verificou e-mails em
seu tablet e não desgrudou do inseparável telefone celular.
Seedorf esbanja simpatia na chegada do Botafogo ao Engenhão (Foto: Gustavo Rotstein)
No seu quarto, mensagens dos jogadores do time de juniores, que ficaram
com o vice-campeonato da Taça Guanabara no sábado, ajudaram a motivar
ainda mais o holandês para a sua primeira decisão pelo Botafogo.
Ainda em General Severiano, ouviu atentamente a preleção do técnico
Oswaldo de Oliveira. Desta vez, ficou calado todo o tempo. Normalmente,
costuma dar opiniões. No caminho para o ônibus, mais uma vez o tablet e o
telefone foram seus companheiros.
Na chegada ao Engenhão, foi o último a descer do ônibus. Como se fosse
um jogo comum, parou para atender alguns fãs, posou para fotos e deu
autógrafos. No vestiário, começou a entrar no clima do jogo e, no
aquecimento, transformou-se: passou a falar todo o tempo, como se
estivesse disposto a esquentar o time.
- O Seedorf cobra muito da gente, e isso é fundamental numa equipe que
quer vencer - disse Julio Cesar, em entrevista à Rádio Tupi.
Em campo, esteve extremamente participativo. Mais do que o normal até.
Seedorf foi o jogador na decisão que mais sofreu faltas: sete. Empatado
com Lodeiro, terminou como maior finalizador, com quatro, e ainda fez
seis lançamentos (confira as estatísticas do clássico).
Gestualmente, Seedorf mostrou todo o seu conhecimento de jogo. Em
determinados momentos, chegou a pegar jogador pelo braço para colocá-lo
em sua posição numa jogada de bola parada. Teve um pequeno entrevero com
Carlos Alberto antes de uma cobrança de falta e falou além do seu
normal com o árbitro.
Depois de uma sequência de erros de Vitinho, ainda preocupou-se em
acalmar o garoto. Como um pai, deu um forte abraço no jovem durante o
jogo. No gol de Lucas,
participou com um toque de calcanhar antes do cruzamento de Julio Cesar
para Bolívar dar o passe ao lateral. Comemorou com seu sorriso e junto
com o grupo.
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- Seedorf foi muito importante. Falou que o gol poderia sair no começo
ou no fim do jogo, nos deu tranquilidade. Ele e o Oswaldo. Não nos
desesperamos e temos que parabenizar os dois, que ajudaram muito a gente
- comentou Gabriel.
No fim, festejou com a torcida depois de resolvida a confusão da taça.
Rapidamente, deixou o campo e foi para a privacidade do vestiário. Lá
recebeu a visita do filho Denzel, de seis anos, enquanto a sua mulher,
Luviana, a filha Jusy, de nove anos, e os sogros o aguardavam. Mais uma
vez, foi o último a deixar o vestiário, novamente deu autógrafos e fez
sua declaração final depois da conquista.
- É só felicidade. Acho que a celebração depois do jogo mostrou a
importância para todo mundo, para a torcida, para os jogadores,
treinador, o Botafogo, todas as pessoas que trabalham por trás. Deu
muito moral. É melhor levantar uma taça, sempre dá uma convicção a mais.
Foi muito bom comemorar, vamos comemorar por mais uns dias, mas devemos
saber que foi só o começo e teremos muitos outros por vir - disse
Seedorf.
Seedorf, em sua volta olímpica solitária, abre os braços para a torcida (Foto: Satiro Sodre/AGIF)