Índice de gratuidades e meia-entrada afeta renda dos grandes do Rio
Levantamento aponta que pagantes de inteira são minoria em partidas que têm Bota, Fla, Flu ou Vasco como mandantes no Campeonato Carioca
 A baixa presença de público nas partidas do Campeonato Carioca, 
impulsionada pela interdição do Engenhão, chamou a atenção neste ano. 
Mas os pequenos valores arrecadados com bilheteria preocupam ainda mais.
 Isso porque o Rio de Janeiro é um dos centros do futebol brasileiro que
 mais sofrem com a quantidade de meias-entradas e gratuidades em 
estádios, sendo os pagantes de inteira uma minoria nas partidas dos 
quatro grandes, segundo levantamento do GLOBOESPORTE.COM.
 Em média, a cada jogo de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco neste 
estadual, 41% do público pagaram meia-entrada, enquanto outros 27% 
entraram no estádio de graça. Sendo assim, apenas 32% do público 
presente em cada partida desembolsaram o valor
 inteiro do ingresso. Entre os quatro, o Flamengo é o que tem maior 
índice de meia-entrada, representando 48% de sua torcida. Já o 
Fluminense é o que mais sofre com as gratuidades, que representam 33% de
 seu público - o Vasco fica perto, com 29%.

Os números são ainda mais impressionantes se comparados com os de São 
Paulo. Enquanto a meia-entrada significa, em média, 55% dos ingressos 
vendidos pelos grandes do Rio de Janeiro, Corinthians, Palmeiras, Santos
 e São Paulo têm média de 29% de meia-entrada em seus públicos pagantes.
 Para o diretor-executivo do Botafogo, Sergio Landau, a lei da 
meia-entrada no Rio de Janeiro é muito permissiva. O dirigente afirma 
que uma solução seria restringir a venda com desconto a alguns postos de
 venda, para que o controle fosse maior sobre as carteirinhas de 
estudantes, e apenas até a véspera da partida.
 - Sabe o que é vender meia-entrada no dia do jogo? É inviável. Eles 
inviabilizam. Vamos liberar só 10% para estudante, que tal?. Acabou, 
acabou. O Rio é prejudicado porque as regras são favoráveis ao uso da 
meia-entrada. O Ministério Público é sempre radical. Na Internet eu 
gostaria de não vender meia-entrada, mas o MP diz que tem que vender. 
Aqui o cara manda vender em tudo que é lugar, não tem limite nenhum. 
Criam dificuldades pra mim. A mesma coisa é a gratuidade. O Rio é o mais
 radical para os clubes. Não tem limite - critica o diretor.
 No Rio de Janeiro, têm direito à meia-entrada estudantes (do ensino 
fundamental ao superior), professores da rede pública municipal e 
menores de 21 anos. Em todo o Brasil, estudantes e idosos também pagam 
ingresso com 50% de desconto, enquanto os menores de 21 só têm esse 
direito em Belo Horizonte. Em Porto Alegre, por exemplo, a meia-entrada 
só vale para arquibancadas inferiores e para apenas metade dos ingressos
 desses setores.
Gratuidades também têm alto índice
 Além da meia-entrada, outra questão que faz com que a renda das 
bilheterias seja baixa são as gratuidades. Em média, os jogos que têm 
clubes grandes como mandantes tiveram 26% de público não pagante. Um dos
 clubes que têm maior índice de gratuidades, o Vasco conta com muitos 
convidados em suas partidas, segundo o vice-presidente de patrimônio 
cruz-maltino, Manoel Barbosa.
 - O presidente é deputado (estadual), tem uns amigos que entram como 
convidados. Entra tudo como gratuidade. Alguns conselheiros ganham dois 
ingressos. Eu, como vice, ganho cinco. Entra tudo como gratuidade. Mas 
parece que agora no Campeonato Brasileiro o presidente quer acabar com 
alguns convidados. Ele quer diminuir esse número - afirma o dirigente.
 Chama a atenção que o índice de gratuidades em São Januário é muito 
maior do que o das partidas realizadas em outros estádios. Na partida 
contra o Friburguense, no dia 7 de abril, foram nada menos que 70,4% de 
gratuidades: 1299 não-pagantes contra apenas 546 pagantes, gerando renda
 de R$ 10,3 mil. Como os custos da partida foram de quase R$ 56 mil, o 
prejuízo vascaíno naquele jogo ficou perto de R$ 45,7 mil. Manoel 
Barbosa explicou que os números chamativos têm origem no fato de que os 
ingressos para convidados foram distribuídos para que o estádio não 
ficasse completamente vazio, diante dos protestos da torcida para que os torcedores não entrassem.
 
O estádio de São Januário quase vazio para Vasco x Quissamã (Foto: Gustavo Rotstein)
 As gratuidades também são motivo de irritação para Sergio Landau. De 
acordo com o dirigente alvinegro, idosos acima de 60 anos e deficientes 
físicos não têm as mesmas vantagens em nenhum outro estabelecimento.
 - Meu produto é futebol, eu pago o salário do Seedorf, o Fluminense 
paga o do Deco, que são os artistas do espetáculo. Aí o cara entra lá de
 graça. Então, amanhã eu vou no supermercado e, como eu tenho 60 anos, 
vou levar o frango de graça. Não é dada a carne para o cara de 60 anos. 
Não é dado o sabonete para o cara de 60 anos. Porque o negócio do 
supermercado é vender carne, frango, sabonete.
 Nenhuma outra área faz 
isso. Aí você diz que o ônibus é de graça, mas ele é ressarcido. Na 
economia, isso só acontece no futebol. É uma verdadeira loucura. O cara 
faz política em cima de mim, da minha economia. Quando diminui a 
frequência, a gratuidade não diminui. Se tenho 30 mil pessoas, tenho 
cinco mil gratuitos. Se tenho 10 mil, tenho cinco mil gratuitos. Eu 
quero pagar minhas contas. Se o governo quer fazer um trabalho bonito, 
que ele pague. Eu não quero pagar.
 Gerente de arenas do Fluminense, Carlos Eduardo Moura alega que o 
Tricolor vem tomando providências para que tanto a meia-entrada como as 
gratuidades tenham menor incidência.
 - Nos jogos realizados no Rio de Janeiro, onde temos gestão parcial da 
operação, fazemos uma fiscalização rigorosa tanto de gratuidades por lei
 quanto de comprovação de meia-entrada. Tanto que reduzimos, de 2011 
para cá, nossa média de venda de meia-entrada de cerca de 60% para cerca
 de 38%. Recentemente, nós também cortamos os ingressos de cortesia para
 maior parte de nossa diretoria, concentrando apenas as concessões 
desses ingressos no departamento de futebol, patrocinadores das 
competições que participamos, e os previstos em contratos com parceiros 
oficiais do clube, além daqueles para relacionamento da Ferj, a pedido 
da entidade, como a administradora do futebol profissional no nosso 
estado - diz.
 Para compensar, preço dos ingressos aumenta
 Como os pagantes de inteira são minoria nas partidas, os clubes acabam 
por aumentar o preço dos ingressos, para que a meia-entrada não seja tão
 prejudicial e para que os pagantes de inteira compensem o restante do 
público.
 - A primeira solução é ajustar o preço. Se a gente se reúne hoje, fala:
 "Qual é o preço?". E aí calcula de cima pra baixo. A inteira vai custar
 um preço para financiar a meia. Os ingressos são caros por causa da 
meia-entrada. Meia-entrada virou um negócio - reclama Landau.
 Carlos Eduardo Moura, por sua vez, diz que o Fluminense procura baratear os ingressos sempre que possível.
 - Procuramos sempre reservar um setor para nossa ala da torcida mais 
popular quando a conjuntura favorece, mas como sempre temos o custo de 
aluguel e descontos de receita bruta das mais diversas fontes, isso 
complica muito, mas mesmo assim buscamos equacionar essa balança.
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