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Livro relembra carreira de Quarentinha, o artilheiro que não comemorava gols





Obra que será lançada na próxima segunda-feira acrescenta cinco gols à lista do maior artilheiro da história do Botafogo

Marcelo Monteiro Rio de Janeiro

Reprodução/Reprodução
Em General Severiano, Quarentinha cabeceia para marcar um de seus 313 gols pelo Botafogo
No futebol atual, virou moda jogadores não comemorarem gols marcados em partidas contra ex-clubes. O argumento é respeitar torcedores e as equipes que um dia defenderam. Há mais de meio século, um artilheiro tomava atitude semelhante.


Mas por um motivo bem particular. Para ele, fazer gols era uma obrigação para qualquer atacante. Portanto, não havia motivo para festejar.


A carreira deste jogador - Waldir Cardoso Lebrego - é detalhada no livro "O artilheiro que não sorria – Quarentinha, o maior goleador da história do Botafogo", de autoria de Rafael Casé.


No período de um ano e meio de pesquisas para escrever a obra, o autor descobriu cinco gols de Quarentinha pelo Alvinegro até então não computados. Assim, o campeão carioca em 1957 e 62 tem 313 gols pelo clube.


Maior marca de um jogador nos 104 anos de existência do Botafogo. No livro, Rafael Casé revela também a personalidade de um jogador tímido, que não revelava as emoções despertadas pelo futebol. Mas que ficava mais descontraído com os amigos mais próximos.

- Ele era um sujeito simples e, principalmente, muito tímido. Se defendia de toda esta timidez dizendo que não estava fazendo mais do que a sua função, que era pago para marcar gols. O que achei mais legal foi mostrar a verdadeira face de Quarentinha, que não tinha nada de sisudo. Com quem conhecia, era bastante brincalhão. Todos os ex-companheiros com quem falei o achavam um bom colega. Acho que entre os torcedores havia uma imagem errada dele, que pretendo desfazer com este livro - afirma o autor.

Aúdio: ouça entrevista do autor do livro no programa CBN Esportes

Essa característica retraída diante do público acabou evitando que seus feitos fossem lembrados de forma justa, na opinião do escritor.

- Ele não era um cara falastrão, que gostava de dar entrevistas. Muito pelo contrário. Era difícil arrancar algo dele. Isso, com certeza, não colabora na imagem de um ídolo. O seu jeito de não comemorar os gols fazia com que parecesse mascarado ou desinteressado. Mas não dá para entender como um cara que marca mais de 300 gols por um clube não seja eternamente endeusado - diz.

Quarentinha evitava até maior relação de seus familiares com o futebol. Não permitia que parentes o acompanhassem aos estádios. E nunca deu uma camisa sequer de clube para seu filho. Apesar de não demonstrar, adorava o futebol. - Ele era um apaixonado pela bola. Não queria, no entanto, que o filho sonhasse em ser jogador como ele. Queria que o filho fosse doutor. Por isso tanta separação entre o trabalho e a casa - afirma Rafael Casé.


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O livro sobre Quarentinha vai ser lançado na próxima segunda-feira

Assim como no Botafogo, na seleção Quarentinha provou ser artilheiro: fez 17 gols em 19 jogos. Mas uma lesão no joelho acabou o prejudicando na disputa por uma vaga no time que seria campeão mundial em 62 no Chile. Um dos grandes amigos de Quarentinha no futebol foi Garrincha. Ficou famosa a história de que Mané, em um teste psicotécnico antes da Copa de 58, teria desenhado um boneco com corpo fino e cabeça grande.

Questionado sobre o significado daquele desenho, o ponta-direita disse que era o parceiro Quarentinha. - Mané e Quarentinha eram como irmãos, tinham a mesma idade, a mesma origem pobre e gostavam muito um do outro.

Quando Garrincha foi duramente criticado pela imprensa quando se casou com a cantora Elza Soares, ele foi um dos poucos a manter a amizade com Mané - afirma Rafael Casé. Nascido em Belém no dia 15 de setembro de 1933, filho de Quarenta, jogador que foi ídolo do Paysandu, Quarentinha destacou-se no Vitória e chegou ao Botafogo em 1954.

Com dificuldade de adaptação do Rio, acabou emprestado para o Bonsucesso em 1956 - "um castigo" dos dirigentes alvinegros, segundo o autor da biografia. No ano seguinte, voltou ao Alvinegro, clube que defendeu até 1964. Além dos títulos cariocas de 57 e 61, foi campeão do Torneio Rio-São Paulo em 62 e 64.

No clube formou ataques famosos ao lado de Garrincha, Didi, Paulo Valentim, Amarildo, Gérson e Zagallo. Por três anos consecutivos, foi artilheiro do Campeonato Carioca (1958, 59 e 60).Com 31 anos, após uma nova passagem pelo Vitória, foi atuar na Colômbia, onde defendeu quatro clubes (América de Cali, Unión Magdalena Santa Marta, Club Deportivo Cali e Júnior Barranquilla). - Na Colômbia, foi rei. Era conhecido como "El Maestro Quarentinha" - conta o biógrafo.

Apesar de não demonstrar publicamente a alegria que o futebol lhe proporcionava, Quarentinha sentiu bastante a ausência dos gramados após a aposentadoria e até a sua morte, em 11 de fevereiro de 1996, aos 62 anos.

- Poucos foram os jogadores daquele tempo que ficaram bem financeiramente depois do fim da carreira nos gramados. Quarentinha não foi exceção. Mas o mais duro não foi viver com menos dinheiro, e sim viver longe da bola, ficando apenas com as lembranças de seus anos dourados nos gramados pelo mundo afora - conta Casé. Feitos que ficaram marcados na mente dos que tiveram o privilégio de vê-lo em ação.

Caso do escritor João Ubaldo Ribeiro, autor do prefácio do livro, no qual revela a admiração por seu primeiro grande - e provavelmente o maior - ídolo no futebol. O livro conta com depoimentos de ex-companheiros de Quarentinha (Pelé, Zagallo, Nilton Santos, Gérson, Amarildo, Manga, Zito, entre outros), familiares e jornalistas que acompanharam sua carreira de perto.

A obra sobre Quarentinha vai ser lançada na próxima segunda-feira, às 20h, na Livraria Unibanco Arteplex (Praia de Botafogo, 316, Botafogo, Zona Sul do Rio).