Adeus, Londres! Agora é com o Rio
Na cerimônia de encerramento, mistura de culturas, samba, malandragem e futebol serve de apresentação para a cidade-sede dos Jogos de 2016
Agora é com o Rio de Janeiro. O encerramento dos Jogos de Londres
marcou oficialmente a transferência do evento para a Cidade Maravilhosa.
E essa transição foi marcada pela troca de estilos. O cinza londrino e a
música pop britânica foram substituídos pelo sol carioca e o "samba do
crioulo doido", como os organizadores do show brasileiro definiram a
apresentação verde-amarela dentro da festa de encerramento. A entrega da
bandeira olímpica ao prefeito da capital fluminense, mais do que um ato
protocolar, representou que as Olimpíadas pertencem a partir de agora
ao Brasil, com todas suas alegrias e responsabilidades que a realização
de um acontecimento desse porte traz.
O cenário no centro do Estádio Olímpico representando a bandeira britânica
(Foto: Agência Getty Images)
Menos teatro e mais música na festa final
Mais musical e menos teatral, assim foi a cerimônia de encerramento dos Jogos de Londres. Se na festa de abertura o texto de William Shakespeare foi o fio condutor do evento,
a despedida teve como seu ponto de partida o discurso de Wiston
Churchill, primeiro-ministro que liderou a Inglaterra durante a 2ª
Guerra Mundial. O cinza típico dos céus da capital inglesa, representado
através de páginas de jornais que cobriam veículos, cenários e atores
espalhados no centro do Estádio Olímpico, deu lugar a uma explosão de
cores, tendo como trilha sonora sucessos do pop britânico. Do grupo
juvenil One Direction, passando por bandas como Kinks, Madness, Petshop
Boys, Kaiser Chiefs até a referência máxima Beatles, a música foi o
grande destaque do evento.
E as músicas do quarteto de Liverpool pontuaram os momentos mais
marcantes da festa, que se prendeu ao lado contemporâneo da cultura
britânica pós-década de 1960. E foi ao som de um clássico dos Beatles,
"Here comes the sun", que os principais atores dos Jogos de Londres
entraram no estádio. Vários atletas que conquistaram medalhas nesta
edição das Olimpíadas surgiram no meio da plateia e se encaminharam para
o gramado, onde delegações dos países participantes se encontravam.
Freddie Mercury num telão do palco
(Foto:Agência EFE)
(Foto:Agência EFE)
Príncipe na tribuna e a "rainha" no sistema de som
Entre o público presente, coube ao príncipe Harry representar a Família Real. Sem interagir com o evento como "fez" na cerimônia de abertura sua avô, a rainha Elizabeth II,
o terceiro na linha de sucessão ao trono acompanhou de forma protocolar
a festa ao lado da cunhada Kate Middleton (esposa do príncipe William) e
do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o belga Jacques
Rogge.
Se Sua Majestade não estava no Estádio Olímpico desta vez, outra
"rainha" se fez presente num dos momentos mais bonitos da festa. Quando
tocou "Bohemian Rhapsody", do grupo de rock Queen, milhares de leds
espalhados nas arquibancadas foram acesos formando um grande mosaico
colorido que se movimentava ao ritmo da música. Ao contrário do que se
esperava, não houve a projeção holográfica do falecido líder e vocalista
da banda, Freddie Mercury, no centro do gramado, mas em telões.
O humor não foi convidado
Ao contrário da festa de abertura, faltou humor no último dia. O
diretor do evento, Danny Boyle, cineasta responsável por filmes como
"Trainspotting" e "Quem quer ser um milionário?", deixou de lado as
piadas e investiu pesado nos números musicais. Se no primeiro dia houve
vários momentos cômicos, como o personagem Mr. Bean, interpretado pelo
ator Rowan Atkinson, tocando teclado durante a música "Carruagens de
fogo", a referência ao humor inglês ficou apenas por conta dos números
musicais apresentados pelos comediantes Russell Brand (ex-marido da
cantora Katy Perry) e Eric Idle, do grupo de humor Monty Python, que
surgiu no estádio após ser "lançado" de um canhão.
. O primeiro cantou o
tema do filme "A fantástica fábrica de chocolate" e o segundo, "Always
look on the bright side of life" ("Olhe sempre para o lado bom da
vida"), do filme "A vida de Brian".
A parte musical ainda contou com apresentação de cantores como George
Michael, Annie Lennox (ex-Eurythmics), Emeli Sandé, Jessie J., Tinie
Tempah e Liam Gallagher (ex-Oasis), do DJ Faboy Slim e grupos como, Take
That, Muse e Spice Girls, que se reuniram especialmente apenas para
esse evento.
Renato Sorriso, a modelo Alessandra Ambrosio e
o cantor Seu Jorge (Foto: Agência AFP)
o cantor Seu Jorge (Foto: Agência AFP)
Saem o pop e o rock, e entra o samba
Logo após apresentação dos músicos remanescentes do Queen (que tocaram
"We will rock you"), veio o momento mais esperado para os brasileiros: a
transferência da bandeira olímpica. O prefeito de Londres, Boris
Johnson, subiu ao palco central com a bandeira e a passou para o
presidente do COI. Em seguida, Jacques Rogge a entregou para o prefeito
do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. A partir dali, os Jogos passaram,
literalmente, para as mãos do povo do Brasil.
A entrega da bandeira foi a deixa para a festa brasileira no Estádio
Olímpico. Durante oito minutos, a cultura do país foi representada
através de seus clichês: o samba no pé, representado pelo gari passista
Renato Sorriso, o sincretismo religioso, na figura da cantora Marisa
Monte vestida de Iemanjá, a mistura de culturas, explicitada numa dança
indígena e na música "Maracatu atômico", cantada pelo rapper carioca
BNegão. Depois da entrada do "malandro" Seu Jorge (que cantou "Nem vem
que não tem", uma das principais músicas do estilo que ficou conhecido
como "pilantragem"), o palco se transformou numa réplica do calçadão de
Copacabana, onde, ao som de "Aquele Abraço", capoeiristas e passistas e
a modelo Alessandra Ambrósio evoluíram abrindo alas para um dos maiores
ícones do país: Pelé. Samba, ginga e futebol, esse foi o cartão de
apresentação da cidade-sede das próximas Olimpíadas.
O
principal palco dos Jogos de Londres ganha as cores do Brasil após a
passagem da bandeira olímpica para o prefeito do Rio de Janeiro (Foto:
Agência Reuters)
Agradecimentos aos voluntários de Londres e convite aos Jogos de 2016
Após a festa brasileira, o presidente do Comitê Organizador dos Jogos
Olímpicos de Londres (Locog), o ex-atleta Sebastian Coe, emocionou-se ao
agradecer aos voluntários que ajudaram na realização do evento, que
pela terceira vez na história dos Jogos da Era Moderna acontecia na
capital inglesa (depois de 1908 e 1948). Em seguida, o presidente do COI
exaltou a participação dos atletas no evento e fez um convite ao mundo
para acompanhar as Olimpíadas no Rio de Janeiro.
Depois dos discursos protocolares, foi a vez de a pira olímpica ser
apagada. Depois de cerca de três horas de show, cada uma das 204
pequenas tochas que representavam os países presentes no evento foram
apagadas lentamente, indicando o fim da festa do esporte. Ao som dos
clássicos sucessos do grupo The Who, Londres passava a bola para o Rio.
Agora é conosco. 2016 é logo ali.
Uma escultura representando a Fênix "sobrevoa" a pira olímpica enquanto a chama é apagada (Foto: Agência Reuters)