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Por que jamais haverá outro artilheiro como Quarentinha?


Mauricio Stycer


Ao final de “Quarentinha, o artilheiro que não sorria”, Rafael Casé faz uma afirmação aparentemente temerária, mas facilmente compreensível: “Quarentinha é, e sempre será, o maior artilheiro do Botafogo de todos os tempos”.

Que jogador, nos dias de hoje, atuará 10 anos pelo mesmo clube, assinando contratos em branco, aceitando ser maltratado, quando não humilhado, por dirigentes amadores? Waldir Cardoso Lebrego (1933-1996) foi um típico craque das décadas de 50 e 60 do futebol brasileiro.
O pai, nascido em Barbados, no Caribe, veio para Belém ainda criança. Conhecido como Quarenta, Luiz Lebrego foi jogador do Paysandu. Teve oito filhos. El Tigre, como Quarenta também era conhecido, marcou 208 gols com a camisa do Paysandu, tornando-se o terceiro maior artilheiro da história do clube. Depois que largou o futebol, foi ser marceneiro.

Tal como o pai, Quarentinha começou no Paysandu, em 1952, depois foi para o Vitória, da Bahia, em 1953, até chegar ao Botafogo, em 1954. Dois anos depois, como punição por atuações decepcionantes, foi emprestado ao Bonsucesso, onde ficou um ano. Voltou ao Botafogo em 1957, então comandado por João Saldanha, para ser campeão carioca, num time que tinha Nilton Santos, Didi e Garrincha.

Craque, dono de uma canhota muito potente, Quarentinha possuía, porém, uma característica que muito o atrapalhou: era introvertido, melancólico. “Seu jeito introvertido e o hábito de não festejar os gols marcados, por mais belos que fossem, fizeram com que muita gente o rotulasse como indolente”, escreve Casé.

Jogou pela seleção brasileira entre 1959 e 1961, mas problemas nos joelhos (meniscos, como se dizia) o tiraram da Copa de 1962. Nunca mais foi o mesmo. Jogou três temporadas na Colômbia (1965-67) e encerrou a carreira em 1970, aos 37 anos, no futebol catarinense.

Segundo o levantamento de Casé, foram 447 partidas e 313 gols no Botafogo. Além de ser o maior artilheiro, é o quarto jogador com mais partidas disputadas pelo time, atrás de Nilton Santos (723), Garrincha (612) e Valtencir (453). Ao longo de toda a carreira, fez 488 gols. Quatro vezes, jogando pelo Botafogo, fez quatro gols numa mesma partida. Pela seleção, foram 17 gols.

O relato de seu encontro com o filho Jorge, que o viu carregando sacos de batatas nas costas no Porto de Itajaí, é comovente. Nem neste momento, conta Jorge, Quarentinha demonstrou emoção.

De volta ao Rio e à família, Quarentinha, como muitos outros jogadores da sua época, enfrentou as dificuldades de ter sido craque numa fase em que os atletas tinham pouca informação e não se preparavam para a vida depois do futebol. Ainda assim, segundo o depoimento de sua mulher, Olga, não vivia na miséria.
“Tínhamos dois imóveis e um dinheiro para viver dignamente”, diz ela. É Olga quem também afirma: “O Botafogo sempre foi muito ingrato com seus craques”.

PS: O lançamento da biografia de Quarentinha marca a estréia de uma nova editora especializada em livros de futebol. Conto essa história aqui, no Último Segundo.

PS 2: Aos botafoguenses que estejam visitando o blog pela primeira vez, convido-os a ler dois outros textos que escrevi sobre o clube, aqui e aqui.