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'Lesão zero': pioneiro, Botafogo segue colhendo frutos e fará testes-surpresa

Com trabalho diferenciado e moderno, time fortalece preparo físico para se manter no topo da categoria. Elenco aprova e exalta responsabilidade

Por André Casado e Thales Soares Rio de Janeiro
 
Como prova de que a liderança no ranking de menos jogadores afastados por lesão no Brasileirão de 2011 não foi ao acaso, o Botafogo abre a nova temporada também sem dar trabalho ao departamento médico. Exames clínicos fazem parte apenas da rotina de início da preparação anual e ainda não foram requisitados por nenhum jogador. Isso segue sendo fruto do investimento na área de prevenção e o acompanhamento feita pelos setores que dão suporte ao trabalho da comissão técnica de Oswaldo de Oliveira. Para manter a média baixíssima ao longo das competições, serão feitos testes-surpresa com aparelhagem de última geração.

Flamengo, Fluminense e Vasco optaram por antecipar os coletivos e já ganharam alguns problemas físicos. Devido ao método adotado em General Severiano, somente neste sábado é que uma atividade desse nível foi realizada. O conceito é avaliar e otimizar ao máximo a condição dos atletas, buscando deixá-los menos suscetíveis a traumas de qualquer ordem. Assim, ainda que o ritmo possa não ser o ideal para a estreia do Campeonato Carioca, espera-se que haja menos desfalques e, mais à frente, fôlego maior.

Fabio Ferreira e Antonio Carlos no treino do Botafogo (Foto: Thales Soares / Globoesporte.com) 
Antônio Carlos e Fábio Ferreira ajeitam a cinta que os identifica (Foto: Thales Soares / Globoesporte.com)
 Principal cabeça dessa área, o fisiologista Altamiro Bottino detalha cada um dos equipamentos que o clube tem à disposição e se gaba: nos casos em que o clube não é o único a ter tal modelo, é o que utiliza de forma mais abrangente. Ele se refere ao Team System II (cintas especiais que identificam o indivíduo), ao Smart Speed (barreira eletrônica que reconhece a passagem e indica velocidade e desgaste) e ao Reflotron (aparelho bioquímico portátil que, através da ágil coleta de sangue, traz todas as reações do organismo).
- Os jogadores treinam todos os dias com a cinta e possibilitam uma observação imediata feita por mim. Estou sempre no campo monitorando quem pode se empenhar mais, quem passou do ponto. Usamos a técnica em jogos no ano passado e vamos ampliar isso. Fazemos testes constantes, que devem se repetir no fim de fevereiro, após a verificação da pré-temporada. E faremos também o controle geral de surpresa em alguns treinos. Se combinar, eles podem se preparar - ressaltou o profissional, há 12 anos no Glorioso.

Volta de férias sem surpresas
Segundo o fisiologista do clube, até a psicóloga Maira Ruas participa da integração entrevistando o elenco de olho em algum trauma recente que possa ter impacto na condição física
A vontade de saber quem sobressaiu e quem decepcionou nas atividades pós-férias não toma conta de Altamiro. Ele prega que a checagem serve principalmente para saber que tipo de trabalho deve ser feito com cada atleta e em qual nível de intensidade.

- Não estamos preocupados com resultados agora, isso é para as próximas avaliações. O que buscamos nestes testes são as informações para desenvolver o trabalho específico de cada um. Quem perdeu peso, quem ganhou e o que isso provoca: menos força, resistência... A ênfase será dada em cima da maior perda. E isso envolve os preparadores físicos, a nutricionista e até a psicóloga. Até porque eles vêm de férias em locais com alimentações e climas diferentes, e o corpo responde de maneira distinta em cada caso. Tiramos uma verdadeira fotografia para que esse período não seja marcado por cansaço e lesões - argumenta.

- Posso dizer só que não houve surpresas. Todos voltaram em um estágio aceitável, tanto que vocês não viram um trabalho separado com ninguém. A planilha que receberam no dia 4 de dezembro foi seguida. Cargas parecidas de alongamento, força e resistência já estão sendo aplicadas. Alguma variação existe também pela idade - completou, referindo-se, por exemplo, à distância entre os promovidos da base, de 18 anos, e Loco Abreu, de 35.

Fisiologista Altamiro Bottino (Foto: André Casado/Globoesporte.com) 
Fisiologista do Botafogo Altamiro Bottino
(Foto: André Casado/Globoesporte.com)
Em 25 das 38 rodadas do último Campeonato Brasileiro, a estatística marcava que o Botafogo não tinha baixa médica. E, quando teve, foram pancadas em jogadores ofensivos, mais visados, ou lesões musculares pontuais, como as de Antônio Carlos e Cidinho, este ainda em processo de fortalecimento por conta de sua estrutura frágil. Ainda assim, o então técnico Caio Júnior não conseguiu conduzir o time à Libertadores deste ano, fato até hoje lamentado, mas que, segundo os próprios jogadores, se deveu à ansiedade, e não exaustão pelos quase 70 partidas oficiais disputadas.

- Nos quatro ou cinco primeiros jogos de 2012 vão existir dificuldades, sim. São duas realidades distintas em comparação aos rivais menores, que estão treinando há dois meses. Mas pensamos em 11 meses, e não em tiros curtos. Ficou evidente que dá resultado, é só comparar com os outros clubes - reforçou Altamiro.

Jogadores aprovam o esforço
Mesmo com a possibilidade de serem flagrados em má condição ou demonstrando menos esforço, os jogadores alvinegros gostam da responsabilidade que a integração do trabalho oferece. Afinal, é um legado que se leva para toda a carreira.

- Seguimos à risca o que eles passam, porque já existe um padrão no Botafogo e ninguém quer ficar abaixo. Vale a pena, fazemos questão de conferir como estamos fisicamente. É um combustível neste início de temporada, e não vai haver "migué". O treinador é novo, a comissão precisa conhecer e ter confiança no grupo - avaliou o meia Maicosuel.

Já Elkeson, acusado de supostamente abusar das badalas em 2011, também aprova o método e lembra que, por isso, preferiu dormir na concentração no período em que a delegação ainda treinava no Rio - a viagem para Saquarema será nesta noite.

- No Vitória via muito disso, mas no Botafogo a cobrabça é maior, o desempenho nos treinos e discutido sempre - destaca o meia.

Equipamento de Batimentos Cardiacos do Botafogo (Foto: Fabio Leme/Globoesporte.com)Equipamento monitora batimentos cardíacos durante treinos e jogos (Fabio Leme/Globoesporte.com)