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Achei! Artilheiro do Bota na Série B de 2003 vira 'tanque brasileiro' na Ásia

Marcante no retorno do clube para a elite, jogador se transforma em ídolo na Coreia, é cortejado pela China e sonha com retorno ao Glorioso

Por Rammom Monte João Pessoa
 
almir, ex-botafogo no achei (Foto: Rammom Monte) 
Ex-Botafogo, Almir virou ídolo no futebol asiático
(Foto: Rammom Monte)
 
Almir foi artilheiro do Botafogo na Série B do Campeonato Brasileiro de 2003, com 12 gols, e um dos principais jogadores da campanha que levou o Glorioso de volta à elite nacional. Com 21 anos, rapidamente se tornou xodó da torcida alvinegra. Tinha seu nome gritado em quase todas as partidas disputadas pelo time na Segundona.

Sem atuar desde novembro, quando disputou a Primeira Divisão na Coreia do Sul (a K-League) pelo Incheon United, o meia-atacante, hoje com 29 anos, aproveita suas férias em João Pessoa, na Paraíba, para aprimorar a parte física. O atleta treina de segunda a sexta-feira. Sempre que tem oportunidade, pratica uma das suas principais paixões: peladas de futevôlei com os amigos. Enquanto isso, pensa nos próximos passos: a Coreia é uma realidade, a China surge em seu horizonte, e o Botafogo é um sonho para o futuro.

almir, ex-botafogo no achei treino em joão pessoa (Foto: Rammom Monte) 
Para manter a forma, Almir treina em João Pessoa
a espera de um novo contrato no futebol
(Foto: Rammom Monte)
 
Nascido em Santa Rita, na Região Metropolitana de João Pessoa, Almir jogou apenas nas categorias de base do Santos-PB (o mesmo que na Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano foi goleado pelo Corinthians por 9 a 0). Aos 16 anos, em 1999, o meia-atacante foi fazer um teste no Vasco da Gama, mas não foi aprovado.
- Eles mandaram eu voltar só em julho (o teste foi em janeiro). Mas eu viajei para o Rio de Janeiro decidido. Não queria voltar - disse.
E foi com essa determinação que Almir resolveu permanecer no Rio de Janeiro até conseguir fazer um teste no Botafogo. Acabou aprovado no rival do Vasco.
- Joguei nas categorias juvenil e júnior, até subir para os profissionais - comentou o paraibano, alçado para o time principal aos 18 anos, em 2001, pelo técnico Abel Braga. - Para mim, era tudo novidade. Jogar no time profissional de um clube grande como é o Botafogo me deixava encantado.
Eu viajei para o Rio de Janeiro decidido. Não queria voltar"
Almir, após ser reprovado no Vasco da Gama
 
Em 2003, ele chegou ao auge no Botafogo. Artilheiro do time na Série B, numa época em que o clube tentava se recuperar do doloroso rebaixamento de um ano antes, caiu nas graças da torcida após ajudar o time no retorno.
- Eu caí junto com o time em 2002 e ajudei a voltar em 2003. Ainda tive a felicidade de ser artilheiro do time na competição.
Almir foi um dos principais jogadores do Botafogo na Segundona. A competição ficou marcada para o jogador por conta de duas músicas que a torcida cantava para ele.

- Eu tinha feito um Campeonato Carioca muito bom, só que, quando veio a Série B, o Levir (Levir Culpi, treinador do Botafogo na época) me colocou no banco. Durante os jogos, a torcida ficava cantando: “Levir, bota o Almir. Levir, bota o Almir”. Muitas vezes, eu entrava e tinha a felicidade de fazer um gol ou dar uma assistência. Isso aconteceu em vários jogos. Quase sempre eu entrava e fazia o gol. Daí a torcida pedia para Levir me colocar, e, quando ele colocava, o pessoal começava a cantar: “Almir, faz um gol aí. Almir, faz um gol aí.”  Uma vez, ele deu entrevista dizendo que até a família dele cantava a música em casa. Aí disse que não tinha outro jeito, tinha que me colocar para jogar - recordou, aos risos.
Após um bom Campeonato Brasileiro em 2003, o jogador não manteve o rendimento em 2004, ano do centenário do Botafogo. Ele admite que o deslumbramento com o sucesso pode ter prejudicado seu desempenho.

- Admito que não rendi o esperado em 2004. Eu vinha de uma ótima temporada, porém era muito jovem e fiquei um pouco deslumbrado com o sucesso. Não soube lidar com a pressão e a cobrança. Meu rendimento acabou caindo, e não pude repetir as atuações de 2003.

almir no botafogo - achei (Foto: Reprodução / Jornal dos Sports) 
Almir guarda com orgulho os jornais da época de Botafogo, destacando suas boa atuações
(Foto: Reprodução / Jornal dos Sports)
 
Primeira transferência

Almir ainda ficou em General Severiano até 2006, quando recebeu uma proposta e se transferiu para a Ponte Preta. Ele não estava atuando bem no Botafogo desde 2004.

- Escolhi ir para lá para ter a oportunidade de disputar o Campeonato Paulista. Para mim, foi uma transferência muito boa. Era a primeira vez que eu mudava de time. Conhecer pessoas novas, nova cidade, enfim, foi tudo muito bom. Também tive a oportunidade de treinar com o Vadão, que é um cara que me ensinou muito. Lá, fiz um bom Paulistão, e até surgiram propostas de outros times grandes de São Paulo, mas decidi ficar.

Na Ponte Preta, Almir passou apenas um ano e foi transferido em 2007 para o Ulsan Hyundai, clube da Primeira Divisão da Coreia do Sul. Ele diz que ficou muito feliz com a transferência internacional - que, segundo ele, aconteceu no momento exato. Em relação à adaptação, o meia falou que não teve problemas com a alimentação e o idioma. A única diferença que percebeu foi em relação ao próprio futebol.

- A comida não foi um problema para mim, nem a língua, já que eu andava com uma tradutora boa parte do tempo. O principal problema foi mesmo com o futebol de lá, muito mais rápido do que no Brasil. O pessoal lá joga corrido mesmo, e minha característica principal era a força, então eu tive que mudar um pouco meu estilo.

almir, ex-botafogo no achei 'tanque brasileiro' (Foto: Divulgação / Pohang Steelers) 
Ao longo das temporadas no futebol coreano, o 'tanque' deu lugar a um jogador rápido e ágil
(Foto: Divulgação / Pohang Steelers)
 
E foi justamente por causa dessa característica de jogo que o atleta ganhou o apelido de “Tanque Brasileiro”, dado pela imprensa local.

- Assim que eu cheguei, como não estava acostumado com o estilo de jogo de lá, acabava atropelando os coreanos. A imprensa começou a me chamar de Tanque Brasileiro porque eu passava por cima mesmo - brincou.

Em 2008, o meia-atacante voltou ao Brasil para jogar por empréstimo no Atlético Mineiro. Porém, a passagem por Belo Horizonte foi bastante curta. No Galo, Almir jogou apenas 15 jogos antes de voltar para a Coreia do Sul. O jogador atribui a curta passagem por Minas Gerais à troca de técnicos.

Não tenho mágoas do Gallo. Foi apenas uma questão tática que eu não me adaptei"
Almir, sobre o retorno mal sucedido ao Brasil
 
- Em 2008, o técnico era o Geninho, que me levou para o Galo. Comecei como titular, jogando um pouco mais avançado. Até comecei bem lá, mas o Geninho saiu e veio o Alexandre Gallo, e acabei indo para o banco de reservas. Quando entrava, fazia uma função mais recuada, quase como um segundo volante. Não estava rendendo bem, recebi a proposta para voltar para a Ásia e aceitei. Mas não tenho mágoas do Gallo, não. Foi apenas uma questão tática. Eu não me adaptei - explicou.

Após a rápida passagem pelo Atlético-MG, o atleta retornou ao Ulsan Hyundai, onde ficou até 2010. No clube, o atleta conquistou a House Cup, equivalente à Copa do Brasil, além de ser eleito o melhor jogador do país em 2007. De lá, Almir foi transferido para o Pohang Steelers, onde ficou por uma temporada, até ir para o Incheon United, último clube que o meia defendeu.


Fatos inusitados
almir, ex-botafogo no achei 'tanque brasileiro' (Foto: Divulgação) 
Na Coreia, apuros com a alimentação local:
Almir quase come besouro frito e carne de
cachorro (Foto: Divulgação)
 
Em quatro anos e meio na Coreia do Sul, Almir passou por várias situações inusitadas. Uma vez ele quase comeu besouro frito pensando que se tratava de pipoca.

- Eu estava na praia com minha esposa, e de repente vi um carrinho que parecia com esses de pipoca que vendem no Brasil. Falei para ela para comprarmos, e só quando eu cheguei no carrinho vi que não era pipoca. Era besouro frito.
Outra vez, enquanto estava numa pré-temporada, o meia, por problemas no idioma, quase teve que almoçar carne de cachorro. Durante um treino ao qual sua tradutora tinha faltado, o treinador fez uma pergunta e todo mundo levantou a mão.

- Eu não entendi o que ele falou, mas como o pessoal levantou a mão, eu levantei também. Fui treinar e durante os exercícios perguntei em inglês a um dos companheiros de equipe o que o treinador tinha falado. O treinador queria saber quem queria comer cachorro no almoço. Fiquei louco na hora, sem saber o que fazer, mas consegui convencer a galera e me levar para um restaurante italiano. Escapei por pouco.

Técnicos marcantes e arrependimentos
A carreira de Almir começou muito cedo. Aos 21 anos, ele já era ídolo de um dos mais tradicionais clubes do Brasil. Por conta disso, se arrepende de ter feito algumas coisas na carreira, como ir para tantas 'baladas'.

- Não me considero um cara baladeiro, mas às vezes eu saía pra tomar uma cerveja com os amigos, ia para uma boate e terminava encontrando com torcedores do time. Isso não era legal. O cara encontrar seu ídolo bêbado ou algo do tipo. Acontecia mais na época do Botafogo. Depois que fui para a Ponte Preta, eu já era um pouco mais maduro, então evitava mais de sair.

abel braga  fluminense (Foto: Edgard Maciel de Sá/Globoesporte.com) 
Técnico Abel Braga: primeiro a dar oportunidade ao
atacante Almir no futebol profissional
(Foto: Edgard Maciel de Sá/Globoesporte.com)
 
Questionado sobre os técnicos que marcaram sua carreira, o jogador paraibano não soube responder de primeira. Depois de um tempo de conversa, admitiu que Abel Braga, Levir Culpi e Vadão tiveram um papel mais importante em sua trajetória.
- Abel foi quem acreditou em mim e me deu a primeira oportunidade como profissional. Não posso esquecer também do Levir, com quem aprendi bastante, e o Vadão, que é um pai, um grande treinador mesmo.

Outro ponto em aberto em sua carreira, que ele ainda quer “resolver”, é a conquista da K-League. Ele destaca que bateu na trave uma vez, quando chegou até a semifinal, mas não conseguiu o título.

- É uma decepção minha, então ainda tenho o desejo de jogar na Coreia do Sul mais uma vez, nem que seja só pra ganhar a K-League.

Retorno ao Brasil
Apesar de propostas recentes para que o atleta volte ao país para defender times de São Paulo e do Rio de Janeiro, Almir é enfático:

- Ainda não me vejo jogando de volta aqui. Recebi algumas propostas e meu empresário está avaliando, mas ainda é cedo para voltar.

Segundo Almir, seu destino mais provável é o futebol chinês. Ele diz que gostou da proposta e admite que está com vontade de aceitá-la. Mas pondera que é seu empresário quem decide esse tipo de coisa.

- Não sei qual é o nome do time, porque meu empresário ainda não repassou, mas sei que é da Primeira Dvisão. Gostei da proposta, e estamos vendo se ainda nesta semana a gente chega a um acerto. Enquanto isso, fico em João Pessoa aprimorando a parte física e curtindo um pouco minha família.

Apesar de não demonstrar interesse em voltar para o Brasil agora, o atleta fala que, quando acontecer, quer voltar para o Botafogo.
- Devo tudo da minha vida a este clube. Foi lá que fiquei conhecido. E quando eu saí de lá não estava jogando tão bem. Então, hoje em dia eu encontro alguns torcedores do Botafogo na rua e eles me cobram por que saí mal do clube. Então, se eu tivesse que voltar, seria para lá. Mas sei que é algo muito difícil, por conta da minha idade e da minha situação na Ásia.

botafogo-pb sede maravilha do contorno (Foto: Divulgação) 
Almir sonha um dia jogar também pelo Botafogo
da Paraíba (Foto: Divulgação)
 
Além de ter o desejo de defender novamente as cores do Botafogo, o jogador revelou a vontade de jogar pelo homônimo paraibano.

- Tenho o sonho de jogar no Botafogo-PB. Pretendo ainda passar mais uns três anos fora e depois vir para cá jogar no Belo. Sempre tive o desejo de jogar no meu estado. Mas não quero vir para encerrar a carreira, não. Muitas pessoas falam que têm o desejo de jogar aqui para encerrar a carreira. Eu, não: quero voltar jogando bem, colaborando com o time. Recebi até proposta no ano passado para vir, mas achei que era muito cedo ainda. Mas tenho esse sonho.