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Identificação ou banalização? Marca dos 100 jogos se alastra pelo Brasil

Somente nos últimos dois meses, 16 atletas alcançaram o feito na Série A. Marqueteiros defendem homenagens. Torcedores, por sua vez, pouco ligam
Por Marcelo Baltar Rio de Janeiro
Em tempos de mercado tão turbinado, em que jogadores trocam de camisa a cada temporada, a marca de cem jogos vem sendo cada vez mais valorizada nos clubes. Todos os meses, várias homenagens são realizadas nos gramados brasileiros a atletas que atingem o feito, com placas comemorativas, camisas especiais e declarações de amor e fidelidade de ambas as partes. No entanto, nem sempre o jogador é um ídolo ou mesmo tem uma passagem marcante. A tal marca de cem jogos, com isso, torna-se cada vez mais 'banal'.

MONTAGEM 100 jogos - Fernando prass neymar valdivia fahel werley diego tardelli 
O vascaíno Fernando Prass, o santista Neymar, o palmeirense Valdivia, o botafoguense Fahel e a dupla atleticana Werley e Diego Tardelli foram alguns dos homenageados durante este Campeonato Brasileiro
Somente entre os meses de setembro e outubro, 13 jogadores de grandes clubes brasileiros completaram cem partidas por suas respectivas equipes. De Neymar a Fahel, todos foram devidamente homenageados.
Esse é um reconhecimento da diretoria com seu funcionário. É um mimo que ele vai colocar na parede de casa com carinho e orgulho... A longevidade não assegura a rentabilidade comercial 
Diretor de  marketing do Botafogo
Banalizadas ou não, as homenagens existem e, de uma forma ou outra, estão presentes em quase todas as rodadas do Brasileirão. Para Marcelo Guimarães, diretor comercial e de marketing do Botafogo, elas são válidas, principalmente em tempos de rara identidade na relação entre clube e jogador.

- É uma forma de reverenciar jogadores que conseguem permanecer no clube, mesmo com um mercado tão nervoso. É importante valorizar. São jogadores que passam identificação. É um contraponto ao mercado tão volátil, onde os atletas estão sempre de passagem. É uma forma de premiar o próprio jogador. Esse é um reconhecimento da diretoria com seu funcionário, com placas de metais ou camisas com a numeração especial. Agora estamos fazendo pôsteres inspirados no cinema, com foto representativa das características do atleta. É um mimo que ele vai colocar na parede de casa com carinho e orgulho.

Placa Willian Flamengo 
Willians recebeu homenagem recente pelos cem
jogos no Flamengo (Foto: site do clube)
Visão diferente tem a diretoria do Atlético-GO, time com nove jogadores entre os centenários. Elias, por exemplo, atingiu a marca no último sábado, contra o Internacional. Mesmo assim, o feito não recebeu muita atenção em Goiânia. Apenas uma lembrança no site oficial. Segundo a assessoria de imprensa, "não é a política do clube".

Mas até que ponto isso interessa aos torcedores? Para o apresentador e editor-chefe do SporTV News, Marcelo Barreto, o torcedor é um dos menos interessados nesse tipo de marca.

- Os departamentos de marketing devem imaginar que vale a homenagem. Eu nunca vi torcedor algum se mobilizar pela centésima partida de um jogador. Muito menos comprar camisa número 100. Mas eles (marketing) precisam, de alguma maneira, valorizar e identificar os atletas com os clubes. Isso é reflexo do vai e vem do mercado. Muitas vezes os atletas não completam nem uma temporada e trocam de clube com seis meses. A identificação está acabando. Hoje as pessoas torcem pela camisa. Está cada vez mais difícil ir ao estádio para ver um ídolo - opinou.

Os departamentos de marketing devem imaginar que vale a homenagem. Eu nunca vi torcedor se mobilizar pela centésima partida de um jogador. Isso é reflexo do vai e vem do mercado
Marcelo Barreto, apresentador do SporTV
O próprio Marcelo Guimarães, responsável pelas ações mercadológicas do Botafogo, reconhece que a longevidade em um clube não garante a identificação com o torcedor.

- Depende muito do jogador. Tem outros adicionais. Não basta fazer cem jogos para ter a identificação com o torcedor. A longevidade não assegura a rentabilidade comercial - reconheceu.

A marca de cem jogos por um clube, convenhamos, não é fruto de muita persistência. O Internacional, por exemplo, caso chegue à decisão do Mundial, disputará 75 jogos oficiais nesta temporada. O Santos, campeão da Copa do Brasil, 72. Um jogador que não frequente muito o departamento médico pode completar o feito em um ano e meio ou, no máximo, em duas temporadas. Somente na semana passada, Willians (Flamengo) e Rafael Marques (Grêmio), Diego Tardelli (Atlético-MG) e Elias (Atlético-GO) entraram para o time dos homenageados.

Os recordistas
Se completar cem jogos não parece muito trabalhoso, a marca dos 1.000 já é fora da realidade para os padrões brasileiros e até internacionais. No Brasil, Rogério Ceni, jogador profissional do São Paulo desde 1993, pode superá-la em breve. Entre os atletas da Série A, o são-paulino é o recordista, com 939 partidas. Com contrato até 2012, o goleiro pode atingir o feito na próxima temporada.

Homenagem Marcos Palmeiras 
Se a marca de cem jogos não comove os torcedores, as 500 partidas de Marcos pelo Palmeiras mereceram homenagem da torcida (Foto: Ag. Estado)
A posição de goleiro, aliás, parece ser a de maior longevidade no futebol brasileiro. Os arqueiros ocupam as quatro primeiras posições desse ranking. Além de Rogério, Harley, do Goiás (683), Marcos, do Palmeiras (507), e Fábio, do Cruzeiro (362), são os jogadores com o maior número de jogos por seus clubes na Série A. Entre os atletas de linha, Léo, do Santos (345), e Leo Moura, do Flamengo (304), são os primeiros.

Os clubes com mais atletas que completaram a marca são Internacional (10), e Atlético-GO (9). O goiano manteve a base do time que garantiu os acessos às Séries B e A nos últimos dois anos. O gaúcho, por sua vez, apostou em antigos ídolos e repatriou vários jogadores (Renan, Tinga e Rafael Sóbis) para a Libertadores, após a Copa do Mundo.

Clube que passou por uma grande reformulação após o rebaixamento para a Série B, em dezembro de 2008, o Vasco é o segundo time que menos tem centenários. São apenas dois: Fernando Prass, que aintgiu a meta no mês passado, e o meia Felipe, que já teve outras duas passagens por São Januário. O Guarani, por sua vez, não tem nenhum jogador que já tenha atingido a marca pelo clube.