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Nascido dos pés de Garrincha, grito de Olé no futebol completa 51 anos







Blog Bola de meia - Bernardo Pombo -
20/2/2009- 0:01

Em dias turbulentos com o futebol carioca deslocado para os tribunais, tomo a liberdade de lembrar um momento realmente futebolístico. O protagonista é ninguém menos que Garrincha.

Precisa mais? Há exatos 51 anos, o craque arrancava gritos de ‘olé’ de torcedores mexicanos que assistiam a uma partida entre Botafogo x River Plate na Cidade do México. O genial Ruy Castro, autor da biografia de Garrincha - Estrela Solitária, um brasileiro chamado Garrincha -, conta a história com habilidade semelhante.

“O jogo foi Botafogo x River Plate, a 20 de fevereiro de 1958. O River era a própria seleção argentina, com dez de seus titulares, entre os quais o goleiro Carrizo, o volante Nestor Rossi, o atacante Labruna e o lateral-esquerdo Vairo. Seu cachê era de 10 mil dólares por partida - o do Botafogo, 2 mil.
Mas essa disparidade dos valores não se refletiu em campo: com Garrincha, Didi e Nílton Santos, o futebol do Botafogo já era igual ou maior que o do River. Tanto que a partida, duríssima, terminou em 1 x 1. Mas o que os outros vinte homens fizeram em campo foi irrelevante - para a torcida mexicana, o jogo consistiu no inacreditável e indescritível baile de Garrincha em Vairo.

Já desde os primeiros dribles, o estádio Universitário começou a gritar 'Olé!', como nas touradas, quando Vairo partia para o desarme e Garrincha, com um jogo de pernas ou quadris, deixava-o sentado. Foram dezenas e dezenas de dribles.

O 'Olé!', gritado por milhares de bocas em uníssono, transformava-se numa gargalhada quando Garrincha 'esquecia' a bola e continuava correndo, com Vairo no seu encalço sem perceber que a bola ficara para trás. Ou quando suas freadas bruscas faziam Vairo esquecer-se de que o campo acabara e esborrachar-se na pista de carvão.

O treinador argentino Minella achou melhor tirar seu jogador. Mais um pouco e Garrincha faria Vairo ajoelhar-se para atravessar sua aorta com uma muleta imaginária. Se isso acontecesse, não seria injusto que, também como nas touradas, cortassem a orelha de Vairo e a oferecessem a Garrincha como troféu. Vairo ficou feliz por ser substituído. Com os seus fundilhos sujos de carvão, caminhou rindo em direção ao banco de reservas e comentou com Minella, ao alcance dos ouvidos de Saldanha:
- Não há nada a fazer. É impossível.

Rapidamente, os ecos do olé mexicano chegariam ao Rio e se espalhariam também pelo Maracanã. Todas as torcidas passariam a gritar 'Olé!'.

OBS: Quer saber mais? O livro de Ruy Castro é leitura obrigatória. Depois que eu li, entendi a vontade que meu amigo Pedro Carrano - jornalista - sempre teve de arrumar um emprego de porteiro para conseguir 'engolir' três livros por dia.

OBS 2: Garrincha é o que é mesmo com, talvez, apenas 10% dos seus lances registrados em vídeo. A pergunta que não quer calar é:

Quanto você pagaria para estar no estádio Universitário no dia 20 de fevereiro de 1958?